Comecei a ver esperando que fosse um thriller, mas está mais para terror com pitadas de ficção científica. E a bem dizer, mais para manifesto que para entretenimento...
Já fica o aviso que é do tipo que não pretende agradar o grande público e nem mesmo os aficcionados desse gênero que anda bem popular, por exemplo com outros diretores como o Jordan Peele (Corra!, Nós, Não olhe)
Terceiro do diretor Brendan Cronemberg, que está seguindo os passos do pai David Cronemberg (A mosca, Videodrome, Crimes do Futuro).
O filme é uma representação surreal e deliberadamente violenta, sobre hedonismo, privilégio e moralidade, flertando com uma linha tênue entre sensualidade e pornografia. Entre animalidade e espiritualidade aqui não tem espaço para a segunda.
O enredo é centrado em um resort exclusivo em um país fictício, onde o personagem principal - o escritor James Foster (Alexander Skarsgard que esteve muito bem na série Succession) está em busca de inspiração, na companhia da sua companheira e financiadora, filha do dono da editora - e acaba se envolvendo em umas paradas beeem sinistras.
A Mia Goth, atriz que vem se destacando no gênero terror, faz o par com ele, na pele de uma mulher sedutora e liberada pelo marido que se aproxima do escritor e vai enredando-o naquele tipo de furada que já vimos em outros filmes.
Após a apresentação dos personagens e do contexto a trama começa no momento em que os quatro saem dos limites do resort e um acidente acontece. A partir daí o estômago do espectador vai ser testado se aguenta doses cavalares de sadismo, o que é o que minimamente salva o filme, já que não é tão comum ver isso embalado com um argumento de ficção científica, nesse caso envolvendo clonagem de seres humanos.
Para não dar spoiler digo apenas que os clones aqui são usados para livrar as pessoas "originais" da pena de morte.
Se der para notar isso, a fotografia do filme é muito bem pensada. O roteiro acaba sendo razoável também pois não tem a preocupação de explicar muita coisa para o espectador, e o final é bem incomum pois é ao mesmo tempo fechado e aberto. Poderia talvez ser mais curto...
Difícil não compará-lo com Triangulo da Tristeza, que ganhou #Cannes2022, já que essencialmente é uma crítica aos super-ricos que controlam inclusive a vida e a morte, sem pudor de cair na barbárie, mas onde aquele escapa para o humor desconcertante, esse fica no mal estar e desconforto mesmo. E compõe bem também com o Nuevo Orden.
Só para os fortes, nota 6. Polêmico é, com certeza.