Por mais que seja pertinente e haja muitos pontos em comum, eu sempre acho muito difícil transpor as leituras e representações da mídia estadunidense sobre racismo para o contexto brasileiro.
Eu realmente não acho que é só uma questão de traduzir jargões.
Não há dúvida que o racismo estrutural é uma chaga aberta do Brasil, mas eu tenho dúvida sim sobre o quanto as produções feitas nos EUA para cinema e TV são capazes de despertar uma mobilização aqui, necessária para transformar isso.
Na maioria das vezes (repito muito isso nos comentários que registro nesse blog) elas me parecem reforçar os preconceitos que poderiam estar pretendendo denunciar.
O ponto mais positivo que vi nessa minissérie é que ela me pareceu mais sincera nesse aspecto. Como é padrão nas dramatizações de casos reais, tem lá seus exageros apelativos na tentativa de emocionar, mas o resultado é bastante satisfatório - uma exceção quando se fala de produções da Netflix.
A sinopse é o caso real conhecido como "os cinco do Central Park", ocorrido em 1989.
Cinco jovens pobres, quatro negros e um hispânico foram injusta e controversamente condenados pelo estupro de uma jovem branca. Eles cumpriram entre seis e treze anos de prisão, até que o real culpado confessasse o crime, em 2002, o que ficou provado por exames de DNA.
Detalhe: na época, Trump gastou 85 mil dólares em anúncios de jornal pedindo a pena de morte para os garotos.
O tema central é muito bem abordado e a consagrada diretora Ava Duvernay conseguiu desdobrar a narrativa para mostrar o impacto nas famílias.
São quatro episódios compridos, de uma hora, o último 90min. E vale a pena conferir as entrevistas com os protagonistas reais, contendo inclusive os vídeos reais das confissões a que foram coagidos, como por exemplo esse abaixo.
Nota 9. Recomendo. https://www.imdb.com/title/tt7137906/
Depois dessa coloquei o longa Selma dessa mesma diretora, e a série recente Them na fila.
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