Essa série que durou dez anos e cujos episódios foram compilados em quatro longas é literalmente deliciosa! Se como eu, você é apaixonado por viajar, vai amar esses filmes!
Em todos, o roteiro é o mesmo: os atores ingleses Steve Coogan e Rob Brydon representam versões ficcionalizadas deles mesmos e partem em uma jornada gastronômica de uma semana, com um sentido particular em cada filme e passando por locais fora da rota principal dos turistas.
As histórias são articuladas em torno das melhores coisas que a vida tem: arte e cultura, música, boa comida, bons vinhos, amizade, e é claro, amor e sexo.
O nível de perspicácia e repertório exigido do espectador para acompanhar a velocidade, acidez do sarcasmo dos textos é bem alto. Mas quem conseguir identificar as muitas referências - algumas mais explicitas, outras menos - da literatura, da música, do cinema e da cultura pop, vai concordar que merecem pelo menos nota 9. Aliás a parte do amor e sexo é o motivo para eu não dar nota 10 pelo
viés um pouco machista ou também eurocêntrico, mas mesmo assim considero adequados ao contexto
do roteiro.
Em hipótese alguma assista as versões dubladas, pois um jogo que logo se estabelece é tentar adivinhar quem eles estão imitando. Eu me esbaldei com as caricaturas de grandes atores ingleses e estadunidenses como Michel Cane, Sean Connery, Antony Hopkins, Roger Moore, Marlon Brando, Hugh Grant, Robert De Niro e ícones como David Bowie e Mick Jagger.
E a proposta dos filmes se constrói de fato na imitação, com a proposta de imitarem a si mesmos, em uma crítica muito inteligente ao sistema Hollywodiano e da cultura televisiva contemporânea. Os filmes vão se alternando com foco ora em Coogan ora em Brydon, envolvendo as supostas famílias e relacionamentos, enquanto os "semi-famosos" lidam com seus agentes e frustrações na indústria do entretenimento.
Toda viagem que se preza tem trilha sonora no toca cd do carro, em cada um dos filmes os karaokês com imitação e discussões das letras são hilários. Outra boa sacada dos roteiros é incluir coisas que dão errado durante a viagem, e que todos que já viajaram comigo já me ouviram dizer que são elas que marcam as memórias.
Enquanto isso vão desfilando na tela os restaurantes do tipo que não são para quem quer, mas só para quem pode, com contas acima de 300 euros, com menus de dar água na boca, e todos sem exceção com locações e vistas de tirar o fôlego. Enquanto a conversa rola na mesa, mostra-se o que rola na cozinha, a preparação dos pratos, nesse aspecto lembra um pouco uma série que já comentei aqui: Midnight Dinner.
Entre uma mesa e outra, eles visitam cidades, vilarejos, lugares, sítios e monumentos culturais fora do mainstream, e tiram sarro da selfmania. Vale destacar que em nenhum dos filmes, embora sejam mencionados, aparecem aviões. Eles se locomovem por carro e barco, reforçando as imagens associadas ao navegar.
Enfim, uma série que recomendo para qualquer um que sabe o que é e gosta de FLANAR. Deixei os links nos cartazes.
Série: https://www.imdb.com/title/tt1698441/