Como em tudo, na arte a experiência conta muito... bom filme demonstrando a capacidade dessa que é talvez a maior atriz brasileira viva e atuante!
Com certeza, um dos mais sensíveis e potentes do cinema nacional em 2025.
Dirigido por Andrucha Waddington e Breno Silveira, sendo que Silveira faleceu durante as filmagens, e Andrucha assumiu a direção.
A escolha de dois diretores com estilos distintos, mas que destacam a emoção contida nos detalhes cotidianos, revela-se um acerto que molda a identidade do filme:
Enquanto Waddington empresta seu olhar apurado sobre a estética e o ritmo narrativo, Silveira contribui com a alma do filme: a busca por justiça contra à banalização do mal.
Baseado em fatos reais, o filme conta a história de Joana Zeferino da Paz, uma aposentada moradora de Copacabana, que em 2005, filmou da janela de seu apartamento a movimentação de traficantes e policiais corruptos. Suas gravações resultaram na prisão de mais de 20 pessoas.
A atuação de Fernanda é muito sensível, do semblante abatido à fala pausada, cada nuance de sua atuação transmite décadas de experiência e dor acumulada. Mas o papel seria sim uma oportunidade de dar mais visibilidade a outras atrizes negras brasileiras.
O roteiro, escrito por Aline Portugal e Márcio Alemão, é um retrato comedido e comovente da vida em silêncio de uma mulher à margem da sociedade midiática, mas dotada de uma força moral que transcende sua fragilidade aparente.
Vale também como um discurso contra o etarismo que virou mato no Brasil.
Ao evitar os clichês do cinema de denúncia, o script aposta na introspecção e nas contradições morais da protagonista, fugindo de um falso heroísmo. O filme tem uma tensão que cresce lentamente.
O restante do elenco é competente e equilibrado, mas propositalmente contido para não ofuscar a protagonista. A narrativa é contada do ponto de vista de Nina e os demais personagens ficam em órbita.
Não pude deixar de reparar na direção de arte principalmente nos detalhes do apartamento, que em muitas coisas parece com a minha casa...
Na esteira de Ainda estou aqui, o filme conseguiu merecidamente uma boa bilheteria nos cinemas e tem até sido cotado para representar o Brasil no #Oscar2026. No Festival do Rio, ganhou Melhor Atriz e Melhor Direção.
Não tem como não compará-lo com Central do Brasil (ai que saudade da Marília Pêra...), aqui novamente Fernanda contracena com o ator mirim Thawan Lucas.
De certa forma dialoga um pouco com os dramas urbanos do Kleber Mendonça, como O som ao redor e Aquarius, apostando na força silenciosa da mulher madura, marginalizada pela sociedade mas que não perdeu a verdadeira ética.
Minha nota é 8, um pouco pelo ritmo.
Disponivel no Globoplay.
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