Triângulo da tristeza (2022)

 

Desde o meio do ano que eu estava com esse filme na fila.

Palma de Ouro em #Cannes2022, sendo que o diretor Ruben Ostlund ganhou em 2017 com seu filme anterior Square - a arte da discórdia, no qual dei nota 6 no imdb...

Vencer Cannes uma vez é difícil, mas vencer duas seguidas é mais, né. Li boatos que o filme foi inicialmente recusado no festival.

Esse também é do tipo que as pessoas gostam ou odeiam - inclusive os críticos...

O filme usa o exagero ao extremo para provocar aquele riso nervoso e amarelo sobre aquilo que constrange - como o vencedor do Oscar Parasita - eu gostei, mas o filme chega a ser chato por excesso de ironia e não mudar de assunto. E dura quase 2h30.

Mas nem de longe é um filme para relaxar, pelo contrário, ele exagera na intenção de incomodar, é como aquela piada ruim e politicamente incorreta que te deixa pensando.

A história acompanha um casal de jovens modelos - a atriz principal Charlbi Dean morreu repentinamente em agosto último. 

Já abre chutando a santa com uma ótima a sequência de seleção de modelos masculinos, e vai até o final falando e mostrando explicitamente, sem metáforas ou rodeios, o discurso a que se propõe: os super-ricos não tem escrúpulos morais e agem como se o dinheiro pudesse comprar tudo - e todos, enquanto falam dos ideais modernos de igualdade, fraternidade e liberdade.

A cena seguinte segue com o desfile de moda, onde os outros muitos temas que estão em segundo plano já são apresentados: hipocrisia, gênero e poder, consumo, conflito de classes.

A seguir o espectador entra na natureza da relação infantilizada e excêntrica do casal, que está mais para um acordo comercial que para um namoro - onde tudo é fotografado em mil poses "instagramáveis" e laconicamente falsas.

Eu fiquei bastante impressionado de ver como o noivo da atriz defunta na vida real se parece com o personagem do filme...

Mas a principal parte do filme se passa em um cruzeiro de luxo, onde os demais personagens caricatos ao extremo  - de um russo que se intitula vendedor de bosta (quem mandou invadir a Ucrânia) a um casal de velhinhos fabricantes de granadas- chegam na tela, sendo que a narrativa se estrutura comparando as rotinas do grupo de passageiros ricos com as do grupo de funcionários que trabalham no navio.

E é no jantar com o capitão alcoólatra e militante marxista, em meio a um mar revolto (será que ele pretendeu citar A Tempestade?)  que muitas cenas vão talvez tentar representar literalmente "o mal estar da civilização", em meio a uma espécie de batalha de rap com citações de autores clássicos à esquerda e à direita,  até o desfecho no capítulo final, que não vou comentar muito aqui para não dar spoiler, mas o trailler já entrega, onde os personagens literalmente despidos de suas máscaras assumem a sua verdadeira  natureza animal e selvagem.

O final é aberto, do tipo que o espectador tem que decidir o que aconteceu, o que também acredito que vai desagradar a muitos. 

Ainda mais nesse Brasil conflagrado, sem dúvida não vai fazer sucesso.

Mas eu dou nota 9, então cuidado e assista por sua conta e risco. Por o dedo na ferida dói!

Se tiver estômago forte, veja junto com Nuevo Orden. 

 

https://www.imdb.com/title/tt7322224/

 

 

Resident alien (2021-)

 

Enlatado por enlatado, esse é xarope e pelo menos garante algumas risadas.

Sitcom americana até o talo, mas com um bom argumento adaptado dos quadrinhos e o ator Alan Tudik segura a série com uma comédia física acima da média dos enlatados.

A sinopse é um alien que fica preso na Terra e acaba sendo obrigado a se misturar com os locais de uma cidade caipira nos EUA. No primeiro episódio ele mata o médico da cidade e acaba tendo que tomar o lugar dele (com o poder de se transformar). Aos poucos a série vai revelando que a missão dele era destruit o planeta, mas com a convivência com os humanos, ele começa a ter dúvidas.

A comédia vem do esforço dele para entender o comportamento e as conexões entre as pessoas e tentar se adaptar #catarse. Boa parte do humor vem da falta de noção e de filtro, dizendo a pacientes com câncer que vão morrer em alguns dias ou abrindo um caixão no meio do velório para lamber o morto. 

O pano de fundo são as incongruências entre a razão e a emoção e o afastamento do personagem também dá oportunidade para colocar de uma forma leve questões melindrosas dos muitos tabus e preconceitos que rondam as relações humanas. 

O fato de ter sido lançada durante a pandemia talvez explique porque a série foi bem recebida pelo público e pela crítica, estreando uma segunda temporada e sendo renovada para uma terceira.

Destaque também para a participação da Linda Hamilton, eterna Sarah Connor (exterminador do futuro).

Nota 8, recomendo!

https://www.imdb.com/title/tt8690918/

Canal Syfy. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

The unbearable weght of massive talent / O peso do talento (2022)

 

Esse filme está para o cinema assim como o Carlos Alexandre está para a música brega.

É tão exagerado, mas tão exagerado que o resultado é bom. Costumo citar como exemplo o Schwarzenegger pulando do avião e saindo correndo.

Bom filme, bom entretenimento, especialmente para quem é fã de filmes de ação e gosta do Nicolas Cage.

É uma espécie de resenha bem humorada da carreira do ator, tirando sarro dos piores momentos e ressaltando os pontos altos p. ex. dirigido por Scorcese ou De Palma.

A sinopse é o ator interpretando uma versão ficcionalizada dele mesmo, com direito a múltiplas autorreferências, fórmula que já foi utilizada por outros atores do gênero ação como o Steven Segal e Jean Claude Van Damme com resultados bem piores.

Tem momentos que o roteiro e montagem derrapam, sobra cena de carro correndo e tiro falso, mas a dupla com o Pedro Pascal funciona perfeitamente, mesmo nos momentos que eles estão extremamente caricatos. Há uma cena com Cage fazendo Cage fazendo um mafioso italiano caricatura do Marlon Brando...

Nessa linha sem dúvida uma sequência deliciosa são os filmes The Trip to... com os atores ingleses Steve Coogan e Rob Brydon interpretando a si mesmos.

Na sinopse um Nick Cage em decadência sem conseguir papéis e em crise na família topa fazer uma presença por um milhão na festa de aniversário de um milionário espanhol interpretado pelo Pascal, fã colecionador de itens usados nos filmes do ator. A fortuna vem do tráfico de drogas e na viagem para Maiorca (que rende boas locações para as perseguições de carro...) Cage acaba cruzando com a CIA que está tentando prender o traficante.

Corajoso, pois o melhor humor sempre anda em cima da lâmina muito fina do ridículo e ele consegue se equilibrar em cima da faca.

Ou seja,  um bang bang xarope brega da melhor qualidade. Vai para o trono ou não vai???

Nota 7, recomendo.

https://www.imdb.com/title/tt11291274/

Amsterdam (2022)

 

 Elenco e aparência grandiosos para um resultado francamente modesto...

Destaque para o Christian Bale que se esforçou muito e deve pegar uma indicação para o #Oscar2023.

E a trilha sonora também vá lá, merece.

Mas se vier para a Margot Robbie ou qualquer outra indicação para o filme será por conta do viés comercial do oscar, pois o filme deixa um pouco a desejar em termos de roteiro e principalmente de montagem, com várias cenas repetidas, duvidando da capacidade do espectador...

O design de arte lembra um pouco os filmes do Wes Anderson, tem vários comentados aqui no blog. Se bobear é imitação barata mesmo...

Mas o filme acaba perdendo a mão, mesmo partindo de um argumento não muito original mas sempre interessante do amor ou amizade em um triângulo amoroso. E emperra com uma comédia dramática fechada em si mesma.

No caso os três amigos - dois homens e uma mulher - se conhecem durante a Primeira Guerra, vivem o seu affair por um período depois da Guerra em Amsterdam e voltam a se encontrar na década de 1930, a partir de uma trama envolvendo um assassinato.

Infelizmente, apesar de atuações muito competentes de todo o elenco, o roteiro não cola nem decola, e não alcança outras produções parecidas como Silver Linings Playbook,  Os sonhadores, Lendas da Paixão.

As outras "estrelas" como  Rami Malek, Chris Rock e o Robert de Niro acabam ficando ofuscados no roteiro confuso. E na hora que o filme levanta alguns temas legítimos como fascismo e racismo, provavelmente o público já desviou a atenção...

Se pensar bem é um papel bem parecido que o C Bale interpretou no bom Trapaça, pelo qual foi indicado melhor ator - o filme foi indicado em dez categorias e não ganhou nenhuma... Na verdade o Silver Linings e o Trapaça inclusive são do mesmo diretor David Russel.

O antigo seriado nacional Armação Ilimitada resulta melhor.

Pena para os produtores, pois deve ter custado bem caro...

Recomendo, nota 7.

https://www.imdb.com/title/tt10304142/

Prey (2022)

 

Tudo de novo a mesma coisa igual outra vez, salvo engano pela sétima vez...

Volta à proposta original da franquia, dessa vez caçando os indígenas comanches no século 18...

E é só isso mesmo.

Nota 5. Dispensável.

Causeway / Passagem (2022)

 

 Eu gosto muito dos filmes da distribuidora A24, tem vários comentados aqui no blog.

Esse ficou dentro do padrão, não é nenhuma brastemp mas a boa atuação do casal principal e o bom roteiro valem a conferida.

A sinopse é uma veterana de guerra que volta pra casa com uma lesão cerebral e tem que se readaptar, inclusive à própria família e reaprender a fazer tarefas simples sem falar dos traumas pesados.

Ela volta para a pequena cidade natal onde conhece um mecânico não menos marcado pela vida, de muitas formas.

Desse compartilhamento de traumas e sofrimento nasce uma relação entre a amizade e o amor.

É o filme de estreia da diretora e chega abordando de forma direta, explícita, aberta e sincera muitos temas que podem ser considerados bem delicados, de gênero, etnia, classe social e outros mais.

A performance dos atores é boa mas o roteiro permitiria ir bem mais além, eles estão muito bem mas parece que ficou faltando um trabalho mais visceral de preparação de atores, como por exemplo no nacional Cidade Baixa.

Ele aparece como "na reserva" na lista do site termômetro oscar para o #oscar2023.

Nota 7, recomendo.

https://www.imdb.com/title/tt10192406/

Salyut 7 (2017)

 

Em geral as produções russas do gênero ficção científica são boas, porque contam mais com um bom roteiro do que com muitos efeitos especiais.

Esse é mais um bom exemplo disso, história bem contada, e sem deixar nada a desejar com relação aos clichês de Hollywood em termos de efeitos. 

É interessante de vez em quando ouvir a narrativa de salvar o mundo, em russo.

Baseado em fatos reais, o filme narra acontecimentos da missão Soyuz 13 de 1995, que teve como objetivo salvar a estação espacial que dá nome ao título, tendo passado a história como uma das grandes realizações russas em termos de corrida espacial.

Nota 6, recomendo.

https://www.imdb.com/title/tt6537238/ 

Vesper (2022)

 

Belo filme! 

Ficção científica russa com direção de arte muito refinada e conceitualmente coerente do início ao fim. 

A sinopse é uma menina que luta para sobreviver num cenário pos-apocalíptico, com o seu pai acamado, que interage com ela por meio de um drone - referência explicita ao filme Náufrago. Ela resgata uma enigmática mulher perdida na floresta após um desastre aéreo e negocia com ela por um acesso a uma "Cidadela" onde a elite da sociedade sobrevive mais confortavelmente.

O mais bacana do filme é o design das biomáquinas. O conceito  é um pouco parecida com a da série Alien, mas onde nessa referência tudo é negro, aqui tem um pouco mais de cor. 

Conversa bem com outras produções recentes do gênero como Contos do Loop. É mais um exemplo interessante de como o gênero ficção tem uma roupagem diferente nas produções russas, nesse caso mais independente, como em Coma e Salyut 7.

Me remeteu diretamente aos desenhos do Moebius. 

E a belíssima composição dos cenários ofusca completamente o roteiro mediano.

Design da mesma dupla que fez o ótimo e psicodélico Aurora / Vanishing Waves. 

Enquanto escrevo essa resenha ocorre a COP 27 no Egito, falando-se muito - e só se falando - sobre o futuro do planeta. Esse filme tem um pouco a ver com isso também.

 Nota 8 - Recomendo!!

https://www.imdb.com/title/tt20225374/

 

  

  

  

    

  

Aurora / Vanishing Waves (2012)

 

Resgtando aqui uma resenha que postei no face em 2016 para deixar de referência no recente e recomendado Vesper:

O mais louco dos filmes de ficção franco-belga-lituanos que eu já vi! 

Sabe aquele sonho erótico maluco? Está lá. 

E aquele outro em que vc corre como desesperado e não sai do lugar? Está lá também. 

Inclusive aquele com um inseto colorido. Para agradar a qualquer fã do David Lynch. 

Fantástico, literalmente.

https://www.imdb.com/title/tt2208216/ 

Devs (2020)

 

 Ótima série em temporada única de oito episódios, compõe com outras ótimas produções recentes, como a já clássica e essencial Black Mirror, Contos do Loop, Severance, Electric Dreams, Love Death + Robots, Calls, Westworld e Dark um cenário muito interessante da ficção científica nas séries contemporâneas.

O currículo do diretor ainda é curto, mas tem o ótimo Ex Machina.

A sinopse é uma startup, no modelo das gigantes do vale do silício, cujo produto vai sendo revelado aos poucos nos episódios e para não dar spoiler digo só que envolve simulação do passado e previsões do futuro com base em algoritmos em rede. 

A temática central gira em torno de determinismo x livre arbítrio e é um pouco contaminada pelo cristianismo evangélico norte americano, mas ainda assim deixa questões bem interessantes.

A direção de arte é simplesmente fantástica, só o visual já merece assistir a série.

O elenco não é muito conhecido, mas é competente e entrega um bom entretenimento.

 

 

 

 

Nota 9, recomendadíssima.

https://www.imdb.com/title/tt8134186/ 

Não se preocupe querida (2022)

 

Pastiche bem xarope e com gosto ruim pois tenta misturar Black Mirror com O Bebê de Rosemary, ambientado na série A Feiticeira ou Jeannie é um gênio.

Produção cara e cosmética, investindo na estética do casal de atores, a atriz até que salva, mas o principal pfff... eu não conheço muito, me diz a Olivia que ele é famoso.

Roteirinho mais que batido da esposa submissa presa em uma situação misteriosa, quando a trama se revela aí que o filme trava com força e cai nas cenas de perseguição de carro e a pé até o final mais que decepcionante.

Mas se pensar bem é o mesmo papel que a Florence Pough fez em Midsommar, esse sim um trhiller psicológico mais perturbador.

Nessa linha da esposa em cativeiro tem vários por aí que são melhores.

Nota 4, não recomendo.

 

3.000 years of longing / Era uma vez um gênio (2022)

 

Que preguiça essa tradução do título hein... é desprezar demais a inteligência do público brasileiro...

Sou muito fã da Tilda Swinton, recentemente comentei aqui os ótimos Memória e A voz humana.

Este certamente não é o melhor trabalho da atriz - talvez seja o do ator Idris Elba, até o momento -  fica abaixo desses outros dois mas ainda assim merece ser conferido.

Aqui, como sempre ela encarna um personagem que foge ao senso comum.

O filme estreou em #Cannes2022 e o diretor é o mesmo dos Mad Max, Babe o porquinho e Happy Feet, sendo que o filme pende mais para esses dois últimos que para alguma estrada da fúria. Pode-se dizer que é um romance xarope diferentão...

O roteiro não é nenhuma Brastemp - uma solitária acadêmica profissional de letras inglesa compra uma garrafa antiga em um bazar de Istanbul e dentro dela sai...um gênio que tenta lhe conceder os três desejos. O filme se organiza em capítulos centrados nos personagens para contar a trajetória do ser mágico que vai conquistando e sendo conquistado pela sua nova dona.

Os contos das mil e uma noites vão sendo contados pelo gênio num jogo peculiar de  amor x sedução - elementos que acabam sendo a linha em comum entre as histórias. Porém diante de tantas narrativas recentes que tratam de empoderamento feminino, negando e revendo os clichês, é bem convencional, como sugere o pôster...

E a montagem não ajuda muito ao lidar com as histórias mais longas.

Na categoria "contos" ou de "contadores de histórias" certamente fica longe do topo, e tenta, sem muito sucesso argumentar como esse encanto das histórias foi sendo diminuído pela ciência. Aliás o nome da personagem - Alithea é uma metáfora bem explícita disso.

Me remeteu aos livros do Malba Tahan...

O ponto forte sem dúvida é a direção de arte que consegue sim dar um clima exótico e misterioso para a história de uma forma original.

Nota 6.

https://www.imdb.com/title/tt9198364/