Espelho espelho meu tem algum filme mais sangrento que o meu?
Não curto muito o gênero de horror corporal #prontofalei.
O filme é bom o argumento casa perfeitamente com a escolha do elenco, com a Demi Moore demonstrando pelada a irracionalidade e impossibilidade da perseguição de uma juventude infinita. Explora a obsessão da indústria midiática, especialmente Hollywood pela juventude e beleza. Lá embaixo das tripas no chão, é sobre o envelhecimento e a pressão para permanecer bonita e relevante e os sacrifícios pela eterna juventude.
Faz todo sentido esse filme na carreira da atriz que estrelou o Striptease há quase trinta anos atrás...
Especialmente a direção de arte e fotografia obsessivamente simétrica são os pontos altos do filme, talvez ela tome o #Oscar2025 da Fernanda Torres, mas melhor roteiro em #Cannes2024 aí já achei exagerado.
Vale lembrar que o Titane é do mesmo gênero e foi indicado para palma de ouro...
Mas como o Tudo em todo lugar ao mesmo tempo, foi multipremiado, não seria surpresa se esse cair nas graças da academia...
Vale a pena conferir sim, o problema é que numa metáfora exageradamente explicita da nossa finitude, assim como a beleza física vai fenecendo o filme inicia com a nudez arrebatadora das atrizes mais vai progressivamente aumentando a quantidade de pus, sangue e outros excrementos que vão aparecendo na tela, e para não dar spoiler vou dizer só que termina em uma estrondosa putrefação sangrenta...
A sinopse é uma atriz de tv apresentadora de programa matinal de ginástica em decadência, que se submete ao uso de uma substância milagrosa que promete criar uma versão melhorada de si mesma. A partir daí, surge uma doppelganger novinha e sarada, com a qual ela compartilha a mente e tem que trocar de lugar a cada sete dias.
Nesse ponto, já no início o roteiro inicia com um clima de ficção científica mas abandona rapidamente qualquer compromisso com a possibilidade real de acontecer e vai direto para o campo do realismo fantástico e bizarrão.
Obviamente não demora muito para a novinha achar desvantagem ter que voltar para o corpo da madura e as consequências vão sendo mostradas de forma grotesca, numa tensão crescente de insanidade.
O roteiro me remeteu ao clássico Crepúsculo dos Deuses, que já tratava dos mesmos temas há 70 anos atrás!
Pensando bem essa história é mais antiga... a semente dela é o conto Branca de Neve dos Irmãos Green publicado no século XIX... a velha que tem inveja da nova, a substância é a maçã envenenada, boa parte das cenas é na frente do espelho e a própria tv como espelho...
Eu já tinha elogiado a Demi Moore pela atuação na série Admirável Mundo Novo e aqui ela realmente intensa e emocional, até que tem chance de ser indicada ao #Oscar2025. O elenco ainda conta com Margaret Qualley e Dennis Quaid com a maquiagem exagerada ficou igualzinho ao personagem Robbie Rotten da série infantil LazyTown.
A direção de arte é um dos pontos altos do filme. O visual artificial, colorido e sintético é coerente com a narrativa satírica, projetando uma Hollywood onírica e distorcida. A ambientação em Los Angeles, com cenas emblemáticas na Calçada da Fama, reforça a crítica à indústria do entretenimento e à obsessão pela aparência.
Nesse aspecto me remete também aos filmes do David Lynch que sou fã de carteirinha, e sempre comento aqui no blog. Alguns filmes de Lynch, como Cidade dos Sonhos e Inland Empire, expõem a face sombria e corrupta de Hollywood, revelando a manipulação, exploração e alienação dos artistas pelos produtores e executivos, além de questionarem os limites entre realidade e ficção e como o cinema pode distorcer a percepção das pessoas. Em Eraserhead e A Estrada Perdida também há elementos de metacinema e crítica à indústria do entretenimento.
A forma como a direção de arte trata as palmeiras de Beverly Hills é referência direta para Cidade dos Sonhos.
Mas a grande referência mesmo é para O homem elefante, que aparece explicitamente no final.
A cena final é tirada do Carrie a estranha, misturado com Videodrome e Uma noite alucinante. A influência de Quentin Tarantino também é evidente nas cenas de luta estilo kung fu voador.
Enfim a virtude do filme é a narrativa simples com uma crítica social profunda, mas ao preço de algumas bundas, peitos e pélvis à mostra e muito, muuuito sangue e tripa espalhada.
Nota 7, quem não gosta de ver sangue jorrando pela mangueira, não assista.
E se a Fernanda Torres perder para a Demi Moore será a consagração do sexismo no Oscar, o que nem me surpreenderia...
Disponível Amazon Prime e Apple TV.