segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

O menino e a garça (2023)

 


O que o Disney um dia sonhou e não fez é o que o Miyazaki FAZ.

#Oscar2024 de animação inquestionável, pra nenhum ator dublador mequetrefe ficar falando asneira por aí...

Retorno triunfal do aclamado diretor após um hiato de uma década, obra-prima que combina elementos autobiográficos com a fantasia característica do cineasta, resultando em uma narrativa profunda e visualmente lindíssima, como sempre.

Roteiro adaptado, o filme segue Mahito Maki, um jovem que perde a mãe durante a Segunda Guerra Mundial. Ao se mudar para o campo com o pai e a nova madrasta, Mahito encontra uma garça-cinzenta enigmática que o conduz a um mundo fantástico, onde ele embarca em uma jornada de autodescoberta e enfrentamento do luto. A narrativa aborda temas universais como perda, amadurecimento e a busca por sentido em meio ao caos, refletindo experiências pessoais de Miyazaki, tornando o filme uma obra semi-autobiográfica.

Com uma produção que nem os milhares de funcionários da Disney jamais conseguiram igualar em qualidade, Miyazaki demonstra mais uma vez a sua arte insuperável. Sua habilidade em misturar realidade e fantasia na animação feita à mão proporciona uma experiência cinematográfica única, com visuais exuberantes e uma atenção meticulosa aos detalhes. O filme é considerado um manifesto ao Studio Ghibli, unindo o melhor do estilo de Miyazaki em uma obra que celebra a imaginação e a criatividade.

Mais uma vez o renomado compositor japonês Joe Hisaishi, parceiro de longa data de Miyazaki e do Studio Ghibli arrasou na trilha sonora. Essa colaboração, que remonta a Nausicaä do Vale do Vento (1984), é uma das mais emblemáticas do cinema, responsável por criar algumas das trilhas mais inesquecíveis da história da animação.  Hisaishi utiliza uma combinação de instrumentos tradicionais japoneses, orquestrações clássicas e arranjos minimalistas, criando uma trilha que se harmoniza perfeitamente com a atmosfera onírica e melancólica da narrativa. 

Enfim, uma obra que transcende as barreiras da animação, oferecendo uma narrativa rica em simbolismos e emoções. Acombinação da direção visionária de Miyazaki com a excelência técnica do Studio Ghibli resulta em um filme que não apenas encanta visualmente, mas também provoca reflexões profundas sobre a vida, a perda e a resiliência humana.

Imperdível, nota 9.

O Menino e a Garça (2023) - IMDb

































sábado, 14 de dezembro de 2024

Megalopolis (2024)

O título diz muito. Esse filme quer ser mega. Ambição utópica (ou distópica?) maior que o filme...

Francis Ford Coppola, um dos cineastas mais icônicos da história do cinema, retorna com um projeto que ele venha talvez sonhando por décadas... Ele é reconhecido por filmes marcantes e revolucionários como O Poderoso Chefão e sua continuação e Apocalypse Now.  De certa maneira ele sempre foi um cineasta que se arriscou, explorando temas complexos e desafiando normas de Hollywood.

 Nesse eu achei que tem muita influência do Godard na maneira de construir a narrativa e a estética visual. Vide minha humilde resenhazinha do Imagem e Palavra. 

Elenco impressionante, incluindo Adam Driver como Cesar Catilina, Giancarlo Esposito como o prefeito Franklyn Cicero, Nathalie Emmanuel como Julia Cicero, Aubrey Plaza como Wow Platinum, Shia LaBeouf como Clodio Pulcher, John Voight como Hamilton Crassus III, Laurence Fishburne como Fundi Romaine, e Talia Shire como Constance Crassus Catilina. 

Fica entre o drama e ficção. A trama se passa em uma cidade futurista e utópica chamada Megalópolis alter locus de Nova Iorque, onde o progresso tecnológico e a arquitetura avançada coexistem com profundas desigualdades sociais e políticas.

A história gira em torno de Cesar Catilina (Adam Driver), um arquiteto visionário e idealista que sonha em transformar Megalópolis em uma verdadeira utopia. Ele acredita que, através da arquitetura e do planejamento urbano, é possível criar uma sociedade perfeita onde todos possam prosperar. No entanto, seu sonho enfrenta resistência de Franklyn Cicero (Giancarlo Esposito), o prefeito da cidade, que está comprometido em manter o status quo e perpetuar a ganância e a desigualdade.

Para ser mega tem que ser simples.

Cesar encontra apoio em Julia Cicero (Nathalie Emmanuel), filha do prefeito, que compartilha de sua visão utópica e se torna sua aliada na luta por mudanças. Juntos, eles tentam convencer a população e os líderes da cidade a abraçar a visão de Cesar para um futuro melhor.

E só isso, porém graaaande na tela...

Segundo o site Literary Hub, O roteiro é inspirado em eventos históricos da Roma Antiga, a conspiração de Catilina, um senador romano que tentou derrubar a República Romana em 63 a.C. Lucius Sergius Catilina, o personagem histórico, buscou o consulado prometendo eliminar dívidas, mas foi derrotado por Marcus Tullius Cicero, que o denunciou no Senado. 

E de mais a mais, imperialismo romano e americano é tudo farinha megalomaniaca do mesmo saco. 

Com esse roteiro mixuruca e narcisistico sobra a fotografia que é tudo no filme, combinando  elementos de ficção científica e influências clássicas da era majestosa do cinema, criando uma estética visual que certamente o comentarista de carnaval Milton Cunha chamaria de deslumbrante...

A outra parte do título com certeza é uma referência ao clássico Metropolis

Enfim uma experiência cara do diretor (ele investiu US$ 120 milhões nessa brincadeira e para isso vendeu até uma vinícola).

Antes tivesse ficado com o vinho mesmo hein Coppola...

Nota 7, mas recomendo demais para arquitetos!

Nos cinemas.

Megalópolis (2024) - IMDb





    










 

 


































sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Tipos de gentileza (2024)


A crítica não gostou muito, mas eu sim...

E Segue o Yorgos Lanthimos no embalo de Pobres Criaturas com um filme meio desconcertante, não vai agradar a todos...

Antologia composta por três histórias distintas, todas sobre poder x submissão e como o título informa, tipos de "bondade". Para quem conhece, são os temas do dia a dia na academia...

A primeira história é sobre um homem que tenta controlar a própria vida mas não consegue escapar do seu chefe, na segunda um policial começa a perceber que sua esposa está agindo de maneira estranha, como se fosse uma pessoa completamente diferente e na terceira, na minha opinião a melhor, uma mulher está a procura de uma pessoa com uma habilidade especial, uma espécie de deusa reencarnada, a serviço de uma seita muito esquisita. Ela faz de tudo para chegar no seu objetivo e o final é surpreendente. 

A conexão entre as histórias é um personagem chamado R.M.F. que eu entendi como random mother fu***. Tem que prestar muita atenção inclusive nos créditos, para achar esse personagem.

O elenco é o mesmo nas três partes, interpretando personagens diferentes. Esse é um dos pontos que os críticos não gostaram muito, mas não vi problema nenhum.

Depois de uma dúzia de indicações no #Oscar2024 inclusive melhor filme e levar atriz, maquiagem,  design de produção e figurino pelo anterior, esse não é tão esquisitão e distópico como O Lagosta. Eu gostei muito do Sacrifício do Cervo Sagrado. 

No elenco principal, Emma Stone, Willem Dafoe e o Jesse Plemons, esse último se vc buscar aqui no blog vai ver que sou fã, por exemplo achei que ele foi a única atuação que prestou em Guerra Civil. A dancinha da Emma Stone é um dos pontos altos do filme.

Nota 8, recomendo.

Disponível Disney+.

Tipos de Gentileza (2024) - IMDb













quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Ainda estou aqui (2024)


Contra o esquecimento, a memória. 

Contra a opressão, luta e resistência. 

Contra a dor, o amor. 

Contra o fascismo, tudo.

Tod@s ao cinema!!!

O experiente Walter Salles volta com uma obra prima centrada na  história da família Paiva durante a ditadura militar, mas o filme é bem mais que isso.

Frente ao cinismo mortal dos discursos de extrema direita que foram naturalizados no Brasil como se não fossem nojentos, é um filme necessário e que vem no momento certo, por muitas virtudes, mas especialmente por seu potencial educativo.

Junto com os filmes do Kleber Mendonça Filho vai para a lista dos melhores nacionais da última década, com mérito e louvor. Aqui no blog tem resenha do Retratos fantasmas e Aquarius 

Aplauso de pé para Fernanda Torres indicada no #GoldenGlobe2025, Selton Mello e todo elenco, com destaque para a Fernanda Montenegro. 

Cabem também os adjetivos sensível e respeitoso. Talvez seja esse o maior mérito do diretor e do elenco - achar o tom certo para representar uma história real de uma família centrada na memória dos pais, ele assassinado pela ditadura e ela com uma vida inteira de luta e resistência, mas cujos filhos estão vivos.

Me chamou muito a atenção a escolha de não entrar nos arcos pessoais dos filhos, especialmente do Marcelo. A Fernanda Torres, se quisesse, poderia ter feito uma Eunice Paiva mais latina e passional e a violência da ditadura poderia também ter sido explorada explicitamente visualmente, por exemplo o depoimento da filha. Mas a escolha acertada da direção foi pela moderação e respeito o que é mais um mérito do filme.

Fico na enorme torcida pela indicação para o #Oscar2025.

Tomara e torço muito, mas assim como comento em muitos filmes aqui que para nós brasileiros às vezes falta uma experiência baseada na vivência para entender filmes estadunidenses com um teor político e de crítica social, esse e o caso reverso: se para nós esse filme é importantíssimo por colocar o elefante na sala e dizer desde o título que a ditadura não se anistia nem se esquece, para o americano médio pode ficar só como uma "amável autobiografia"...

A direção de arte e a fotografia do filme são impecáveis. A recriação dos anos 70 é detalhada e autêntica. A trilha sonora é simplesmente sensacional! Composta por músicas da época, além de uma trilha original que complementa perfeitamente o tom do filme.

Vamo que vamo, indicado a Leão de Ouro, vencedor do melhor roteiro, premio Signis e Drop  em #Veneza2024, indicado a melhor filme e atriz no #GoldenGlobe2025, dentre outros prêmios.

O filme está com nota 8,9 no imdb, com 54% de nota 10!!! Ainda Estou Aqui (2024) - Avaliações - IMDb

A minha é 9 - NÃO PERCA!!!



domingo, 8 de dezembro de 2024

A substância (2024)


Espelho espelho meu tem algum filme mais sangrento que o meu? 

Não curto muito o gênero de horror corporal #prontofalei.

O filme é bom o argumento casa perfeitamente com a escolha do elenco, com a Demi Moore demonstrando pelada a irracionalidade e impossibilidade da perseguição de uma juventude infinita.  Explora a obsessão da indústria midiática, especialmente Hollywood pela juventude e beleza. Lá embaixo das tripas no chão, é sobre o envelhecimento e a pressão para permanecer bonita e relevante e os sacrifícios pela eterna juventude.

Faz todo sentido esse filme na carreira da atriz que estrelou o Striptease há quase trinta anos atrás...


Especialmente a direção de arte e fotografia obsessivamente simétrica são os pontos altos do filme, talvez ela tome o #Oscar2025 da Fernanda Torres, mas melhor roteiro em #Cannes2024 aí já achei exagerado.

Vale lembrar que o Titane é do mesmo gênero e foi indicado para palma de ouro...

Mas como o Tudo em todo lugar ao mesmo tempo, foi multipremiado, não seria surpresa se esse cair nas graças da academia...

Vale a pena conferir sim, o problema é que numa metáfora exageradamente explicita da nossa finitude, assim como a beleza física vai fenecendo o filme inicia com a nudez arrebatadora das atrizes mais vai progressivamente aumentando a quantidade de pus, sangue e outros excrementos que vão aparecendo na tela, e para não dar spoiler vou dizer só que termina em uma estrondosa putrefação sangrenta...

A sinopse é uma atriz de tv apresentadora de programa matinal de ginástica em decadência, que se submete ao uso de uma substância milagrosa que promete criar uma versão melhorada de si mesma. A partir daí, surge uma doppelganger novinha e sarada, com a qual ela compartilha a mente e tem que trocar de lugar a cada sete dias.

Nesse ponto, já no início o roteiro inicia com um clima de ficção científica mas abandona rapidamente qualquer compromisso com a possibilidade real de acontecer e vai direto para o campo do realismo fantástico e bizarrão.

Obviamente não demora muito para a novinha achar desvantagem ter que voltar para o corpo da madura e as consequências vão sendo mostradas de forma grotesca, numa tensão crescente de insanidade.

O roteiro me remeteu ao clássico Crepúsculo dos Deuses, que já tratava dos mesmos temas há 70 anos atrás! 

Pensando bem essa história é mais antiga... a semente dela é o conto Branca de Neve dos Irmãos Green publicado no século XIX... a velha que tem inveja da nova, a substância é a maçã envenenada, boa parte das cenas é na frente do espelho e a própria tv como espelho...

Eu já tinha elogiado a Demi Moore pela atuação na série Admirável Mundo Novo e aqui ela realmente intensa e emocional, até que tem chance de ser indicada ao #Oscar2025. O elenco ainda conta com Margaret Qualley e Dennis Quaid com a maquiagem exagerada ficou igualzinho ao personagem Robbie Rotten da série infantil LazyTown

A  direção de arte  é um dos pontos altos do filme. O visual artificial, colorido e sintético é coerente com a narrativa satírica, projetando uma Hollywood onírica e distorcida. A ambientação em Los Angeles, com cenas emblemáticas na Calçada da Fama, reforça a crítica à indústria do entretenimento e à obsessão pela aparência.

Nesse aspecto me remete também aos filmes do David Lynch que sou fã de carteirinha, e sempre comento aqui no blog. Alguns filmes de Lynch, como Cidade dos Sonhos e Inland Empire, expõem a face sombria e corrupta de Hollywood, revelando a manipulação, exploração e alienação dos artistas pelos produtores e executivos, além de questionarem os limites entre realidade e ficção e como o cinema pode distorcer a percepção das pessoas. Em Eraserhead e A Estrada Perdida também há elementos de metacinema e crítica à indústria do entretenimento.

A forma como a direção de arte trata as palmeiras de Beverly Hills é referência direta para Cidade dos Sonhos.

Mas a grande referência mesmo é para O homem elefante, que aparece explicitamente no final. 

A cena final é tirada do Carrie a estranha, misturado com Videodrome  e Uma noite alucinante. A influência de Quentin Tarantino também é evidente nas cenas de luta estilo kung fu voador.

Enfim a virtude do filme é a narrativa simples com uma crítica social profunda, mas ao preço de algumas bundas, peitos e pélvis à mostra e muito, muuuito sangue e tripa espalhada.

Nota 7, quem não gosta de ver sangue jorrando pela mangueira, não assista.

E se a Fernanda Torres perder para a Demi Moore será a consagração do sexismo no Oscar, o que nem me surpreenderia...

Disponível Amazon Prime e Apple TV.