Belo filme, um dos mais diferentes que já vi sobre os temas profundamente filosóficos da morte, luto, perda, aceitação, no gênero realismo fantástico.
Selo A24 então já sabe que vem coisa boa...
Somente quatro atores principais, e pouquíssimas locações, grande parte do orçamento do filme deve ter sido investido em efeitos especiais, num caso raro e muito bem vindo em que os efeitos não aparecem mais do que o roteiro.
Para quem é fã do Sandman de Neil Gaiman, remete imediatamente ao bater das asas da Morte, que neste é... uma grande arara falante!
A narrativa é centrada em Zora (Julia Louis-Dreyfus - Seinfeld) e sua filha adolescente Tuesday (Lola Petticrew), que enfrentam a iminente morte de Tuesday, presa a uma cadeira de rodas.
Estréia da diretora crotata Daina Oniunas-Pusic em longa metragem e mandou muitíssimo bem.
O filme é bem surreal sem cair no melodrama e adota uma abordagem mais reflexiva e metafórica, onde o real e o fantástico se entrelaçam. A Morte muda de cor, de tamanho, de tom... a arara desengonçada é um símbolo muito interessante da finitude inevitável da condição humana.
E a fotografia destaca bem o bico do pássaro que visualmente equivale à foice do ícone que nos acostumamos a ver.
A relação entre mãe e filha é central à trama, e a diretora usa essa dinâmica para explorar as diferentes formas de lidar com a morte: enquanto Tuesday aceita e abraça seu destino com serenidade, sua mãe Zora passa por uma negação dolorosa, intensa e raivosa.
O roteiro consegue segurar bem a atenção até o final, já partindo do inusitado e gerando expectativas interessantes, por exemplo na cena emblemática onde a mãe, em um ato desesperado, queima e engole o pássaro para tentar proteger sua filha.
Muito bom ver a Julia Louis-Dreyfus, conhecida por seus trabalhos de comédia nas séries Seinfeld e Veep num papel dramático, mas com camadas profundas de ironia e sarcasmo - que aliás é comentado explicitamente em várias linhas do texto. O roteiro consegue explorar bem os conflitos da mãe, que luta para aceitar a perda iminente da filha.
Já Lola Petticrew, como a jovem Tuesday, traz autenticidade, leveza e maturidade para o personagem, especialmente em sua interação com a Morte.
Nota 9, recomendo para quem curte filmes estranhos e poéticos, esse é emocional e filosófico.
Para quem só tem o senso latino da morte como tragédia, acho que não vai gostar muito, mas certamente deve entrar na lista de quem gosta de filmes que desafiam e enriquecem a compreensão do mundo.
Já saiu dos cinemas, e ainda não entrou nos streamings, então procurem por aí...
https://www.imdb.com/title/tt14682800/
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