Comparando com clássicos sobre esse tema como Amnésia e passando pelo homônimo Memória de 2021, que ganhou prêmio do júri em #Cannes2021, gostei muto desse mas já aviso, não é para o grande público.
Dramão "estranho" - como o tema exige, chutando a porta com as complexidades de falar de trauma família e identidade.
Desse diretor eu comentei aqui no blog o Nuevo Orden, que também ganhou o prêmio do júri em #Cannes2020, que adorei e dei nota 10, e também é bizarro, mas esse fica com uma nota 8.
O casal de principais está fantástico. Eu gosto muito da Jessica Chastain que cravei o #Oscar2022 aqui no blog por Os olhos de Tamy Faye.
Sylvia é uma assistente social e mãe solteira que se depara com seu passado ao reencontrar Saul (Peter Sarsgaard) em uma reunião de ex-colegas de escola. A estranheza do filme já transborda nesse encontro, pois ele a segue até em casa depois da festa.
O roteiro é um pouco fragmentado, alternando entre o presente e flashbacks do passado traumático de Sylvia que envolve abuso sexual na infância. A construção de personagens é tão boa que acaba sendo um defeito do filme, pois é uma família desarranjada e o filme acaba abrindo mão de ir mais fundo nos arcos dos outros membros das famílias do casal, para concentrar neles e na filha dela.
A melhor cena do filme acontece quando todos da família são defrontados com as próprias culpas na sala de casa.
Trata-se então do envolvimento de uma mãe solteira traumatizada com um adulto vulnerável com demência. Ela é enfermeira que trabalha em um asilo, e ao reencontrá-lo ela acredita que ele é seu agressor do passado e resolve se vingar, mas acaba indo trabalhar para ele. A relação entre os dois se desenvolve de maneira complexa, explorando questões de perdão e redenção.
A cena de sexo é uma das mais desconcertantes que já vi.
Uma camada bem interessante do roteiro é que num primeiro olhar parece que a família dele é mais rica e num determinado momento Sylvia é hostilizada pelo irmão do namorado como se quisesse dar o golpe do baú, mas há várias cenas onde se demonstra que a sua própria família vive num padrão bem mais alto do que ela, e que o seu padrão de vida mais baixo é na verdade uma maneira de rejeitar e confrontar a própria mãe. Nesse sentido o filme lembra um pouco o maravilhoso Dias Perfeitos.
Apesar do ritmo mais lento eu gostei bastante, exceto do final, que é bem trágico, mas parece final feliz, ou seja, o filme consegue ser exatamente a metáfora que se propõe.
Em resumo uma jornada emocional que explora memórias dolorosas, identidade e perdão. A narrativa deixa a gente refletindo sobre nossas próprias experiências e lembranças.
Nota 8, recomendo para quem como eu já teve uma experiência pessoal de cuidar de alguém com demência.
Disponível no MUBI e Prime vídeo.
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