sexta-feira, 27 de junho de 2025

Mountainhead (2025)


Do criador da ótima série Succession, crítica social (leve...) sobre os mesmos relações contemporâneas do poder patriarcal "imbroxável" com a tecnologia.

Até a roupa dos personagens lembra os tais legendários que pagam caro para subir a montanha.

Três bilionários e um pobre multimilionário que ainda não conseguiu seu bilhão, isolados em uma mega mansão nas montanhas estadunidenses durante uma crise global alimentada pela desinformação e pela ascensão da inteligência artificial. 

Oscilando entre o sarcasmo cômico ácido e o grotesco, ao longo do filme o generoso espaço físico da mansão vai se tornando claustrofóbico, em um campo de batalha ideológico e moral, mostrando os delírios de grandeza, a desconexão com a realidade e os perigos de concentrar poder tecnológico em poucas mãos. 

A mansão se transforma numa espécie de centro de controle do apocalipse, pois pelo celular eles controlam mercados, governos e exércitos - e conspiram para matar um deles.

O resultado não é tão bom quanto o da série, o roteiro é um pouco repetitivo, mesmo a presença do experiente Steve Carell no elenco não segura o filme. Ficou parecendo uma mistura de Shark Tank com Big Brother.

Mesmo assim acho que vale a pena conferir para reconhecer que alguma coisa está fora da nova ordem mundial.

Além da série, a vibe do filme é a mesma de Triângulo da Tristeza e Infinite Pool e  remete também ao bom A rede social, o isolamento da elite lembra um pouco O menu, Pelo lado cômico ácido parece um pouco Knives out. Já a atmosfera claustrofóbica dialoga com Ex Machina.

Nota 7. 

Disponivel HBO e Prime.

Aproveite para dar uma conferida no Direto do Fim do Mundo sobre esse tema:





quinta-feira, 26 de junho de 2025

Vitória (2025)


Como em tudo, na arte a experiência conta muito... bom filme demonstrando a capacidade dessa que é talvez a maior atriz brasileira viva e atuante!

Com certeza, um dos mais sensíveis e potentes do cinema nacional em 2025. 

Dirigido por Andrucha Waddington e Breno Silveira, sendo que Silveira faleceu durante as filmagens, e Andrucha assumiu a direção.

A escolha de dois diretores com estilos distintos, mas que destacam a emoção contida nos detalhes cotidianos, revela-se um acerto que molda a identidade do filme:  

Enquanto Waddington empresta seu olhar apurado sobre a estética e o ritmo narrativo, Silveira contribui com a alma do filme: a busca por justiça contra à banalização do mal. 

Baseado em fatos reais, o filme conta a história de Joana Zeferino da Paz, uma aposentada moradora de Copacabana, que em 2005, filmou da janela de seu apartamento a movimentação de traficantes e policiais corruptos. Suas gravações resultaram na prisão de mais de 20 pessoas. 

A atuação de Fernanda é muito sensível, do semblante abatido à fala pausada, cada nuance de sua atuação transmite décadas de experiência e dor acumulada. Mas o papel seria sim uma oportunidade de dar mais visibilidade a outras atrizes negras brasileiras. 

O roteiro, escrito por Aline Portugal e Márcio Alemão, é um retrato comedido e comovente da vida em silêncio de uma mulher à margem da sociedade midiática, mas dotada de uma força moral que transcende sua fragilidade aparente. 

Vale também como um discurso contra o etarismo que virou mato no Brasil.

Ao evitar os clichês do cinema de denúncia, o script aposta na introspecção e nas contradições morais da protagonista, fugindo de um falso heroísmo. O filme tem uma tensão que cresce lentamente. 

O restante do elenco é competente e equilibrado, mas propositalmente contido para não ofuscar a protagonista. A narrativa é contada do ponto de vista de Nina e os demais personagens ficam em órbita. 

Não pude deixar de reparar na direção de arte principalmente nos detalhes do apartamento, que em muitas coisas parece com a minha casa...

Na esteira de Ainda estou aqui, o filme conseguiu merecidamente uma boa bilheteria nos cinemas e tem até sido cotado para representar o Brasil no #Oscar2026. No Festival do Rio, ganhou Melhor Atriz e Melhor Direção. 

Não tem como não compará-lo com Central do Brasil (ai que saudade da Marília Pêra...), aqui novamente Fernanda contracena com o ator mirim Thawan Lucas.

De certa forma dialoga um pouco com os dramas urbanos do Kleber Mendonça, como  O som ao redor e Aquarius, apostando na força silenciosa da mulher madura, marginalizada pela sociedade mas que não perdeu a verdadeira ética.

Minha nota é 8, um pouco pelo ritmo. 

Vitória (2025) - IMDb

Disponivel no Globoplay.

domingo, 8 de junho de 2025

Aniara (2018)


Ficção científica sueca, bom filme, não é muito conhecido, merece uma conferida!

Só de não ser falado em inglês nem focar nos efeitos especiais ou narrativas heroicas mas sim em questões filosóficas e existenciais, já vale a sessão.

E também pela forma extremamente realística com que apresenta o argumento, apesar de alguns furinhos de roteiro.

Baseado em um livro homônimo de Harry Martinson, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura. O roteiro se mantem fiel ao espírito do texto original, enfatizando a insignificância humana diante das distâncias invencíveis.

A história acompanha uma nave espacial que transporta colonos para Marte, mas que, após um acidente, perde sua rota e fica à deriva no espaço. Sem possibilidade de retorno, os passageiros precisam lidar com a dura realidade de que jamais sairão da nave.

Com uma abordagem minimalista e profundamente reflexiva, que se distancia dos roteiros convencionais do gênero, moldada pela angústia, onde a esperança e o desespero se tornam forças opostas que moldam o destino dos personagens, seus traumas e limitações psicológicas e suas reações diante da inevitabilidade do destino. 

A trama gira em torno de uma tripulante encarregada de operar um sistema de realidade virtual que permite aos passageiros reviver memórias da Terra, função que se torna cada vez mais essencial para a sanidade dos viajantes ao longo da viagem. 

A fotografia tem uma atmosfera opressiva. Em vez de cenários grandiosos e efeitos visuais espetaculares, o filme aposta em uma estética minimalista, utilizando espaços fechados e iluminação artificial para reforçar a sensação de confinamento. 

O foco não é nos efeitos, mas os que foram utilizados não deixam nada a desejar em relação às produções médias do gênero.

Parece um pouco com 2001 uma odisséia no espaço.

Ou seja se vc curte FC com porte de drama psicológico essa é uma boa pedida.

Nota 8 pelos furos do roteiro que poupariam aos personagens muitas desventuras e algumas cenas de nudez achei que somam pouco para o roteiro, poderiam ser em menor número e concentrar nas essenciais.

Disponível em vários streamings.

Aniara (2018) - IMDb







domingo, 1 de junho de 2025

O esquema fenício (2025)

Quem me lê aqui nesse blog sabe que sou fã incondicional do multipremiado diretor Wes Anderson.

Vencedor do #Oscar2024 pela Incrível História de Henry Sugar, duplamente indicado no #Oscar20219 por Ilha dos Cachorros e nove indicações tendo ganhado quatro #oscar2015 pelo Grande Hotel Budapeste.

Confira tyambém a minha resenha do Asteroid City e A Crônica Francesa.

Aqui uma ótima resenha da filmografia do diretor: https://www.domusweb.it/en/news/2025/05/22/wes-anderson-movies-design-furniture.html

Se precisar, ligue a tradução no navegador.

A Olivia nos deu uma cortesia e fomos assistir esse já na estreia..

Uma das coisas que eu adoro no Wes Anderson é que ele conseguiu desenvolver um estilo que para muitos pode até parecer monótono, mas só para quem não presta atenção nos detalhes.. 

A assinatura inconfundível do diretor são a fotografia e um design gráfico obsessivo que regem todo o filme com uma composição de cenas absurda de tão detalhada, mas ao mesmo tempo com maquetes e efeitos práticos que fazem o filme parecer um trabalho escolar do ensino fundamental. 

E também um ótimo desenvolvimento de personagens e diálogos. Mas se vc não gosta de diálogos longos e divertidas batalhas verbais, pode achar cansativo...

Esse foi coescrito com o Roman Coppola e estreou no Festival de Cannes  - que não dá para parar de gritar É do Brasil!!! pelas vitórias do Kleber Mendonça e Wagner Moura!

O roteiro acompanha Zsa-Zsa Korda, um magnata excêntrico que decide deserdar seus nove filhos e deixar sua fortuna para sua única filha Liesl, uma noviça aspirante a freira.  Após sobreviver a várias tentativas de assassinato ele decide tentar convencê-la a cuidar dos negócios da família e concretizar o maior projeto de vida de Korda, o esquema que dá nome ao filme. O objetivo dela porém é tentar descobrir quem matou a sua mãe, pois o pai tem fama de ter mandado matar as suas várias esposas.

Acompanhados por Bjorn, um tutor norueguês obcecado por insetos, eles embarcam em uma viagem a vários locais do mundo, cheia de negociações, traições e perigos inesperados. No caminho, precisam lidar com empresários, empreiteiros, terroristas estrangeiros e assassinos determinados a impedir que o esquema se concretize. O filme mistura espionagem, comédia sombria e ação, trazendo o estilo visual característico do diretor , com simetria impecável e uma paleta de cores cuidadosamente trabalhada. 

A estrutura do filme é dividida em capítulos, baseados nos personagens que eles buscam para realizar "o esquema".

O elenco é mega estrelado, com muitas figurinhas carimbadas do diretor: Benicio Del Toro, Jeffrey Wright, Scarlett Johansson, Tom Hanks, Bryan Cranston, Benedict Cumberbatch, Bill Murray e vários outros.

A trilha sonora eclética é mais uma virtude do filme. 

Nota 9 e tomara que entre nas listas do #Oscar2026.

Para os fãs do diretor, a produção oferece tudo o que se espera de um filme de Anderson: humor refinado, personagens excêntricos e uma direção meticulosa. 

Já quem entrou no cinema achando que ia ver a Scarlett Johansson de dominatrix dando voadora, levantou no meio do filme...

https://www.imdb.com/pt/title/tt30840798/