sábado, 18 de janeiro de 2025

Sterben / Dying - a última sinfonia (2024)


Filmaaaaço! Multipremiado em  #Berlin2024, inclusive melhor roteiro. 

Dramão alemão profundo da melhor qualidade, como todos sabem meu gênero preferido é tragédia e esse bate na cara com força, sem parar durante três horas. 

Uma despedida para uma família erguida sobre ilusões e falta de laços genuínos, que são revelados tardiamente, muitas vezes de maneira fria e impiedosa.

Dirigido por Matthias Glasner, que também escreveu o roteiro, o principal tema como o título já indica é a morte, mas não se engane, não é um filme literal, muito pelo contrário.

O filme fala da velhice, e da morte, das relações familiares e de busca por redenção, tudo isso com um toque de humor ácido e realismo brutal.

A direção é marcada por uma abordagem sensível e detalhada, que captura a essência multifacetada dos personagens e suas interações de maneira autêntica e comovente.

Glasner utiliza uma variedade de símbolos para representar sem romance a perda e a renovação, incluindo enterros, suicídios, acidentes e nascimentos. A narrativa é pontuada por momentos de humor e leveza, equilibrando o tom sombrio e tenso do filme.

Na tela os abismos e distanciamentos familiares são mostrados de forma honesta, o que mais me atrai, pois em geral os filmes sobre isso descambam para o melodrama: A mãe que nunca demonstrou verdadeiro afeto pelo filho, nem ele por ela; os irmãos só surgem em momentos críticos, que dependem da ajuda de uma vizinha para tarefas essenciais; a mãe também se distancia do marido, que gradualmente perde a conexão com a realidade.

A finitude se manifesta de diversas maneiras: na sinfonia que dá título ao filme, no suicídio, nos relacionamentos desfeitos, nos incidentes, nas despedidas. Por outro lado tem um contraponto com o nascimento do bebê, a apresentação sublime da orquestra em luto, um gesto de compaixão.

Por isso que esse filme trágico é tão belo - ele trata do ciclo essencial da existência - nascimento e morte -  e o diretor  descontrói as convenções sociais que suavizam e glamurizam essa dinâmica, fazendo que suas personagens enfrentem seus laços e emoções de forma autêntica,  há uma aceitação de que a brutalidade quanto a beleza coexistem na vida, nas palavras e nos afetos. 

A narrativa é estruturada em capítulos, cada um oferecendo uma perspectiva única sobre a trama, na minha opinião esse é o ponto alto do filme, a história começa pelo olhar da mãe doente, que tem de cuidar do marido com alzheimer, pois os filhos já saíram de casa.  O filme abre com ela suja e caída no chão, situação que eu já enfrentei na vida real #catarse.

O segundo é de Tom, que é um maestro renomado e está preparando a apresentação de uma sinfonia mega composta por seu melhor amigo. Ele enfrenta a deterioração da saúde de seus pais, Lissy e Gerd Lunies, enquanto lida com suas própria família nada convencional - ele é separado e tem que dividir a a paternidade com um outro homem, ao mesmo tempo que namora a jovem produtora da orquestra.

No terceiro capítulo é explorada a vida de Ellen Lunies, a irmã de Tom, que se envolve em um romance tóxico com um colega de trabalho, é alcoólatra e nunca superou a inveja do sucesso do irmão. 

O quarto capítulo foca em Bernard, o amigo depressivo de Tom, que trabalha com ele na apresentação de sua composição magistral, e vive com a violinista principal da orquestra.

O quinto capítulo converge as histórias dos irmãos, obrigados a lidar com a morte de várias formas.

Embora o desfecho seja inevitável e esperado, os finais são contrapostos por um fluxo de renovação, que persiste com aqueles que permanecem. 

A trilha sonora também é um dos pontos altos do filme, pois afinal a trama se desenvolve em torno de uma sinfonia e a segunda melhor cena é da apresentação, só perdendo para as confissões secas entre mãe e filho depois do enterro do pai.

Remete ao sensacional Amour, O vazio de domingo,  Nebraska.

O filme não segue as regras do movimento Dogma 95, mas o que mais me lembrou é o Festa de família, ainda não assisti mas até coloquei aqui na fila o Submarino, do mesmo diretor. 

Enfim, se há algo capaz de entrelaçar os sentimentos de existir e partir é a arte, e a poesia.

Por isso que dou nota 9 e recomendo altamente esse filme para todo mundo que pensa sobre qual o sentido disso tudo.

E o detalhe mais importante: praticamente todas as cenas tem alguém tomando vinho.

Disponível Prime Video: Prime Video: Dying: A Última Sinfonia

Dying - A Última Sinfonia (2024) - IMDb


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