sábado, 12 de fevereiro de 2022

Drive my car (2021)

 Diaphana Distribution - Vídeos | Facebook

 Metáfora para a longa e necessária viagem ao interior de si mesmo.

Indicado a palma de ouro e vencedor de melhor roteiro e mais dois prêmios  em #Cannes2021, indicado a quatro #Oscar2022: filme, filme estrangeiro, diretor e roteiro adaptado.

A sinopse é um ator e diretor de teatro cujo relacionamento profundo e criativo com a esposa chega ao fim. Ao se mudar para outra cidade onde vai dirigir uma montagem da peça Tio Vanya, ele é obrigado, ainda que contra sua vontade, a usar os serviços de uma jovem motorista, com quem desenvolve uma relação igualmente forte e transformadora, e também com o casal de atores principais da peça.

Prepare-se, pois o filme dura 3h com o ritmo do cinema japonês, totalmente calcado em diálogos densos, dificilmente irá agradar a quem gosta só de filmes de ação barulhentos, é o oposto disso.

Por que esse filme está sendo tão aclamado pela crítica?

- Porque ele transpõe para o cinema os bastidores de uma montagem de teatro, com um conceito muito interessante de inclusão e multivocalidade: os atores falam os textos em seus idiomas naturais, inclusive a linguagem de sinais - a atriz principal na peça é muda;

- Porque ele vai a fundo na ideia de questionar o quanto estamos abertos para deixar os outros adentrarem a nossa vida e circunstância - representadas no filme pelo carro, cuja direção é entregue a outra pessoa - e o quanto podemos aprender com isso;

Nesse sentido aproxima de Mass, outro filme da temporada que vai na direção contrária, daria uma ótima peça.

- Porque ele reafirma que cada vida traz uma história, que por mais que aparente ser simples, é um oceano profundo e o único limite para os humanos é a sua finitude;

- Porque ele tem linhas memoráveis como estas abaixo: 

Mas mesmo que você pense que conhece alguém bem,
mesmo que ame profundamente essa pessoa,
você não pode olhar no fundo do seu coração.
Você só vai se machucar.
Mas se você tentar
poderá olhar dentro do seu próprio coração.
Basicamente, o que temos que fazer
é sermos honestos com nossos corações
e chegarmos a um acordo de uma forma aceitável.
Se você realmente quer olhar dentro de alguém,
então sua única opção é olhar profundamente
para dentro de si mesmo. 

- Porque o texto dramático central do roteiro é uma peça teatral centenária mas que permanece potente para questionar o quanto a nossa luta no presente pode mudar o futuro - o nosso e o dos outros;

Nós, tio Vânia, havemos de viver. Viveremos uma enfiada longa, longa de dias, de longas noites; havemos de suportar pacientemente as provações que o destino nos mande; havemos de trabalhar para os outros agora e na velhice, sem conhecer descanso. E quando chegar a nossa hora morremos docilmente e na sepultura diremos que sofremos, que chorámos, que passámos amarguras, e Deus terá piedade de nós, e eu e tu, tio, meu querido tio, veremos uma vida luminosa, bela, graciosa, e havemos de alegrar-nos e até olharemos para as nossas actuais desgraças com um sorriso – e descansaremos.

E tome Tchekhov! Nota 7, recomendo! https://www.imdb.com/title/tt14039582/?

Casa bem para assistir junto com A Tragédia de MacBeth... 

Mas se quiser um mais xarope e emotivo, mas igualmente bom, e também inclusivo, vai direto no CODA (No ritmo do coração) que também foi indicado para melhor filme no #Oscar2022.

Me remeteu a esse poema do Drummond que há muitos anos trago comigo e de vez em quando cito em sala: "O homem, as viagens"




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