domingo, 15 de setembro de 2024

Matéria escura (2024~)

 


Mais uma boa série de FC da Apple, totalmente baseada na interpretação de muitos mundos da Física Quântica

Aliás fui pegar isso na wikipedia e gastei mais de uma hora lendo os tópicos, a série é exatamente sobre isso, vc entra em uma caixinha e nunca mais consegue voltar...

Adaptação do best-seller homônimo de Blake Crouch. Não confundir com a série homônima de 2015 que também era bem legal. 

A trama gira em torno de Jason Dessen (Joel Edgerton), um físico e professor que vive sua vida de classe média em Chicago com sua esposa Daniela (Jennifer Connelly) e seu filho Charlie (Oakes Fegley). 

O roteiro já complica no início quando ele é sequestrado... por ele mesmo e levado para um universo paralelo (agora entendeu o nome do site né, talvez o título devesse ser esse) do qual não consegue escapar. 

A série explora temas filosóficos complexos derivados da interpretação de muitos mundos, como consciência,  identidade, livre arbítrio, escolhas e as infinitas possibilidades do multiverso.

A narrativa é bem construída, mantendo o espectador constantemente envolvido c/ cliffhanger em todos os episódios que vão revelando novas camadas da história, com um rigor científico bem razoável para uma produção de TV e uma dose equilibrada de drama.

Adicionaram um efeito sonoro só para você não se confundir em qual linha do tempo está em cada cena... A metáfora com o experimento de Schrodinger é literal, o final é meio xoxo... mas a série foi renovada para a 2a temporada.

Jennifer Connelly está espetacular no papel e tem a Alice Braga que marca um golaço na carreira internacional.

Remete a filmes como Primer, Coerência e a série Dark

Nota 8, recomendo.

Matéria Escura (Série de TV 2024– ) - IMDb


quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Folhas de outono (2023)


Não me lembro de ter visto outro filme mais frio que esse. Comecei a ficar incomodado e contei, tem três sorrisos.

Vencedor do prêmio do juri e indicado para palma de ouro em #Cannes2023, indicação da Finlândia para o #Oscar2024, eleito melhor do ano pela Time...  não achei isso tudo...

O ponto alto do filme é a fotografia com as cores muito bem estudadas, tanto do figurino como do cenário. A estética visual do filme é marcada por uma paleta de cores saturadas e composições simétricas, criando uma atmosfera de nostalgia e melancolia. 

Os planos de cena lembram muito os do Wes Anderson.

Por outro lado, quase parece uma apresentação de power point ou um stop motion sem o motion...

Lento mais que lento parado mesmo. A câmera pouco se mexe e quando se mexe é só uma rotação para o lado em cima do tripé.

Eu não conheço bem esse diretor, pelo que li ele costuma usar um estilo minimalista e personagens melancólicos e marginalizados que, apesar das adversidades, encontram momentos de esperança e humanidade. 

O roteiro é uma crônica delicada sobre um casal de solitários que se encontram por acaso em um bar de karaokê em Helsinki. Ela , uma estoquista de supermercado, e ele, um alcoólatra. A narrativa se desenrola com uma série de encontros e desencontros, onde pequenos gestos e mal-entendidos moldam o destino dos protagonistas. 

A trilha sonora inclui desde clássicos do rock até canções tradicionais finlandesas, que são as melhores.

Eu dou nota 6 e acho que a maioria dos brasileiros iria odiar esse filme, apesar de ele explorar bem a condição humana... no frio da Finlândia.

https://www.imdb.com/name/nm0442454/

Disponível Prime, google play, Mubi e apple.










domingo, 8 de setembro de 2024

Fargo, o filme (1996) e a série (2014~)


Obra-Prima dos irmãos Coen, cuja  filmografia está marcada aqui no blog com #maratonacoen (coloque na caixa de busca),  é um dos filmes mais emblemáticos dos irmãos Joel e Ethan. 

Este clássico moderno solidificou a reputação dos Coen como mestres do cinema com sua narrativa típica, com violência e contrastando um humor irônico e ácido com a frieza do cenário rural americano. 

O roteiro é uma joia de concisão e impacto, oferecendo uma trama que é, ao mesmo tempo, simples e profundamente complexa. 

Fargo segue sendo sucesso de crítica e público recebeu sete indicações ao #Oscar1997, incluindo Filme, Diretor e Ator , ganhou Melhor Atriz e principalmente Melhor Roteiro Original. 

A história gira em torno de Jerry Lundegaard (William Macy), um vendedor de carros fracassado que planeja o sequestro de sua própria esposa para extorquir dinheiro de seu sogro rico. Para executar o plano, ele contrata dois criminosos, Carl Showalter (Steve Buscemi) e Gaear Grimsrud (Peter Stormare). O que deveria ser uma operação simples rapidamente se transforma naquela tragédia gostosa que é o meu estilo favorito.

A trama  está repleta de diálogos afiados e situações absurdas que revelam a ironia intrínseca à condição humana. A decisão dos Coen de apresentar a história como "baseada em fatos reais" adiciona uma camada extra de subversão, pois esse detalhe fictício força o espectador a confrontar a linha tênue entre a realidade e a ficção.

O elenco é um dos elementos que mais contribuem para que o filme tenha se tornado um verdadeiro clássico. 

A vencedora do Oscar Frances McDormand, esposa de Joel Coen e colaboradora frequente dos irmãos, brilha no papel da chefe de polícia Marge Gunderson. Sua interpretação de Marge, uma mulher grávida e de temperamento calmo, mas absolutamente implacável na busca pela justiça, é considerada um dos maiores desempenhos de sua carreira. 

William Macy também está sensacional, retratando a desesperança e a mediocridade de um homem que se vê afundando cada vez mais em seus próprios erros. Steve Buscemi e Peter Stormare,formam a dupla entre o bandido nervoso e tagarela com o silencioso malvadão.

A fotografia é essencial para a atmosfera do filme, capturando a vastidão e o vazio das paisagens cobertas de neve de Minnesota e Dakota do Norte com uma precisão visual que se tornou marca registrada do filme. A neve, onipresente nas cenas não é apenas um elemento estético, mas também uma metáfora para o isolamento e a frieza moral dos personagens. As tomadas longas em espaços abertos contribuem para criar um senso de desolação e inevitabilidade. 

Fargo permanece relevante não apenas como um exemplo brilhante de cinema, mas também como uma exploração profunda da moralidade e do destino, envolta na paisagem congelada e inóspita do meio-oeste americano.

Em 2014, a história foi adaptada para uma série de televisão que também é sucesso. 

A série é antológica e é fiel ao estilo do filme e mistura elementos de tragédia e comédia, ao mesmo tempo em que constrói narrativas complexas e visualmente marcantes.

Cada temporada apresenta uma história autônoma, com grande elenco, personagens e tramas distintas, mas unidas pelo mesmo tom peculiar que caracteriza o universo criado pelos Coen, nas paisagens geladas do meio oeste caipiríssimo estadunidense. A série expande o universo narrativo do longa com novas histórias que, embora fictícias, são apresentadas ironicamente como "baseadas em fatos reais".

A trilha sonora da série utiliza de forma marcante a percussão de fanfarra americana, especialmente nas temporadas mais recentes, o que traz um toque distintivo à série. As músicas evocam desfiles militares e celebrações patrióticas e  contrastam com o clima sombrio e violento da narrativa. Esses ritmos rítmicos e regimentais oferecem uma camada de ironia, já que a série aborda o caos e a violência em ambientes rurais aparentemente pacíficos. A escolha de instrumentos de fanfarra também reforça a crítica social, conectando a música ao tema de controle e autoridade.

Temporada 1 - Lester Nygaard (Martin Freeman)  um vendedor de seguros cuja vida pacata é completamente desestabilizada após conhecer o assassino Lorne Malvo (Billy Bob Thornton). A trama se desenrola como uma espiral de violência e desespero, com Lester gradualmente se transformando de uma vítima em um anti-herói frio e calculista. As decisões aparentemente pequenas acabam levando a consequências catastróficas. 

Temporada 2 - Retrocede para 1979 mostra as raízes do crime organizado e nas disputas de poder no meio-oeste. Centrada na tensão entre famílias mafiosas destaque para o casal Kirsten Dunst e Jesse Plemons que se envolvem acidentalmente em uma conspiração mortal, colocando-os em um caminho de violência inescapável. Estilo visual retrô  muito bacana. 

Temporada 3 - Situada em 2010,  explora o conflito entre irmãos gêmeos interpretados por Ewan McGregor: Emmit, um magnata imobiliário, e Ray, um oficial de condicional ressentido. A rivalidade entre eles desencadeia uma série de eventos que envolvem crime, corrupção e uma cadeia de enganos cada vez mais letal. Esta temporada também introduz V.M. Varga (David Thewlis), um assassino sinistro, que manipula e explora as fraquezas dos outros.

Temporada 4 - Kansas City nos anos 1950, onde duas famílias criminosas, uma liderada por afro-americanos e outra por imigrantes italianos, competem pelo controle do submundo da cidade. No centro da trama está Loy Cannon (Chris Rock), chefe da família afro-americana, que tenta consolidar seu poder em um ambiente marcado por preconceito e violência. Esta temporada examina temas como racismo, imigração e o sonho americano, oferecendo uma análise crítica da história social dos Estados Unidos através da lente do crime organizado. 

Temporada 5 - Retorna às raízes da série, resgatando os temas centrais dos filmes dos irmãos Coen, mas ajustando-os para o contexto contemporâneo. Ambientada em 2019, explora temas contemporâneos da polarização sócio política dos Estados Unidos, focando em personagens como Dot Lyon (Juno Temple), uma mulher que se vê envolvida em uma rede de mentiras e violência, e Roy Tillman (Jon Hamm), um xerife criminoso e autoritário que controla milícias locais. A trama destacando o controle e poder que os personagens exercem sobre os outros. 

Somente a 4a temporada que não merece nota 10, as outras todas sim, igualmente o longa.

 

  



  

 

  













O problema dos 3 corpos (2024~)


Não li o livro que deu origem a adaptação, então já limita um pouco, boa série, mas não achei que merece a badalação toda que teve na internet.

Mesmos produtores de Game of Thrones, e já que não faltou dinheiro, poderia ter dado um resultado melhor... 

Eu tenho ranço da netflix, sempre acho que investe no elenco e deixa o roteiro prá lá. Em termos de séries de ficção científica estou começando a ter certeza que as da Apple são MUITO melhores, comparando por exemplo com Ruptura, Fundação, Silo.

 O enredo segue Ye Wenjie, uma astrofísica que, após testemunhar a morte brutal de seu pai por radicais revolucionários chineses, se envolve em um projeto secreto de comunicação com alienígenas. Em paralelo, a história também explora o grupo nerd conhecido como Oxford Five, uma equipe de físicos que percebe estranhas mudanças nas leis da física, culminando em um conflito interplanetário iminente com uma civilização extraterrestre avançada.

É isso mesmo, muita história para pouco episódio, o argumento é bom mas tem cara de enlatado e as grandes questões filosóficas que levanta são rasamente tratadas.

O elenco tem alguns medalhões como o Jonathan Pryce.

Visualmente, é onde a netflix gastou, a série impressiona pela ambição de retratar tanto os cenários desoladores da Revolução Cultural Chinesa quanto as vastas paisagens cósmicas e ambientes alienígenas. 

Nota 6, só para amantes de Sci Fi.

Vale mais a ver vídeos de física quântica pelo youtube...
















sábado, 7 de setembro de 2024

Trap / Armadilha (2024)


Eu sou fã do Shyamalan, mas esse é talvez o pior da carreira dele, que vai ficando marcada por altos e baixos...

Eu gostei dos últimos Old, que já foi na zona de conforto, adorei o Split que ele mesmo estragou depois em Glass

A Visita recuperou o melhor desde A Vila

Mas esse roteiro, pelamordedeus, ruim com força.

O filme gira em torno de Cooper (Josh Hartnett) e sua filha Riley (Ariel Donoghue), que participam de um show da popstar Lady Raven (Saleka Shyamalan - filha do Diretor). 

A premissa tenta, mas não consegue, um thriller psicológico em que Cooper, já nas primeiras cenas se revela o serial killer conhecido como "The Butcher" e tenta escapar de uma armadilha montada pela polícia. 

Nem a dupla do Arquivo X faria uma caricatura mais pouco crível do FBI...

Shyamalan é conhecido por seus roteiros cheios de reviravoltas, mas Armadilha falha em reproduzir a maestria de O Sexto Sentido ou Corpo Fechado, onde os plots twists são bem fundamentados no enredo.  O uso de temas como medo e paranoia, presente de maneira eficaz em Sinais, é também mal explorado nesse. 

A construção do suspense, um ponto forte nos primeiros filmes dele aqui se desintegra em um amontoado de eventos improváveis e mal justificados. A construção de uma atmosfera sombria e estranha que também é um ponto forte do diretor, aqui é extremamente preguiçosa e desleixada... Outro problema  é a falta de coerência nas ações dos personagens.  O vilão, é retratado de maneira ambígua, misturando pessimamente o pai amoroso com um suposto assassino implacável, e diga-se de passagem, bem incompetente. 

O ator principal  até que faz o seu trabalho, mas é prejudicado pelo roteiro. E o principal ficando mais ou menos já atrapalha os coadjuvantes. 

A fotografia também tenta navegar entre palhetas azuis e vermelhas, mas tb não dá muito certo. Nem a trilha sonora funciona, resvalando para um merchant forçado e descarado da carreira da filha.

Eu sempre digo que tudo que vende pode vender mais um pouco mas hoje não, Shyamalan. 

Nota 4. Não recomendo.

Nos cinemas.

domingo, 1 de setembro de 2024

O sabor da vida (2024)

 


Indicado para Palma de Ouro e vencedor de melhor direção em #Cannes2023. E vem papando prêmios em diversos festivais.

A veterana Juliette Binoche está sensacional no filme e ofusca todo o elenco.

Originalmente intitulado La Passion de Dodin Bouffant, dirigido por Tran Anh Hung, diretor que eu nem conhecia e já gostei...

O filme mostra o mundo da alta gastronomia como pano de fundo para uma história de amor delicada, ambientada na França do século XIX. 

Destaca pela direção cuidadosa e pela profundidade narrativa, com uma atenção meticulosa aos detalhes na preparação dos alimentos.

Para lembrar alguns nessa linha, vale citar A festa de Babette,  O Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o Amante, Delikatessen e com a própia Juliette Binoche o Chocolate.

Mas para quem captar o verdadeiro gosto do filme a indicação é a série Midnight Dinner. 

Roteiro adaptado baseado no romance de 1924 de Marcel Rouff, narra a relação entre o chef Dodin-Bouffant (Benoît Magimel) e sua cozinheira Eugénie.

Dodin é um apaixonado pela arte culinária e pela perfeição nos pratos que cria. Ela trabalha com ele há vinte anos e é a executora das criações na cozinha. Embora já haja uma química evidente entre os dois, Eugénie reluta em aceitar se casar com ele.

O filme é basicamente sobre preparar a comida, comer e beber (vinho é claro) com muito prazer.

A fotografia é bem romântica e muito competente para mostrar a preparação dos pratos com um nível de detalhe que celebra a gastronomia e vai desenrolando como cenário para o desenvolvimento emocional dos personagens. Muito interessante a cena em que ela argumenta que ela fala pelos pratos que vão à mesa.

*O Sabor das Coisas* é mais do que um filme sobre culinária; é uma meditação sobre o amor, o tempo e as pequenas coisas que dão sabor à vida. É uma obra que merece ser degustada lentamente, apreciada em cada detalhe, tal como uma refeição perfeitamente preparada.

O filme deixa a gente com água na boca e pensando como é que num país como o nosso que tem uma culinária riquíssima pode ter gente que passa fome, pois esse é sobre alta gastronomia mas também sobre um sentido mais profundo sobre saber saborear a vida, um dia por vez.

Nota 8, recomendo, eu assisti comendo Espaguete Carbonara!

Disponível em vários streamings.








sábado, 31 de agosto de 2024

Last stop in Yuma County (2024)


Ótimo filme! Um legítimo Tarantino só que de outro diretor: Francis Gallupi.

Quem me conhece sabe que adoro tragédia e esse é meu estilo preferido - começa ruim, vai piorando, piorando e termina sem final feliz. Nota 10!!!

Tensão, desespero e brutalidade com uma narrativa que prende o espectador do início ao fim, tem a vibe dos filmes dos irmãos Coen também.

A trama se desenrola na lanchonete de um posto de gasolina no meio do deserto do Arizona, onde um vendedor de facas e a garçonete esposa do xerife são feitos reféns por dois ladrões de banco em fuga do assalto. O posto está sem gasolina e ninguém consegue sair.  A situação vai piorando à medida que vão chegando outros clientes mas nem todos sabem o que está ocorrendo.

Lembra um pouco o ótimo nacional O animal cordial o espanhol El Bar e o Albino Aligator. 

O clássico Pulp Fiction começa do mesmo jeito e a cena mais tensa é parecida com o climax de Cães de Aluguel. 

O elenco não tem atores conhecidos do grande público, o que não é nenhum problema.

Nota 10, recomendo, verdadeiro faroeste contemporâneo.

Disponivel prime video (com vpn).



Longlegs (2024)


Nicolas Cage vem diversificando bem a carreira.

Bom filme do gênero suspense / horror, o roteiro não é tudo isso que a mídia está promovendo, praticamente uma mistura de coisas que já foram vistas antes e deram certo, mas até que entrega os sustos que promete.

Meio que uma mistura de Silêncio dos Inocentes com Seven.

A história gira em torno de Lee Harker, uma agente do FBI interpretada por Maika Monroe, que investiga uma série de assassinatos ritualísticos. À medida que o enredo avança, a investigação de Harker revela conexões perturbadoras com seu próprio passado, transformando a busca por um assassino em uma jornada pessoal. O roteiro, embora inicialmente ancorado em uma narrativa de mistério, gradualmente mergulha em territórios mais sobrenaturais, abordando rituais satânicos e simbolismos ocultos que adicionam uma camada de horror existencial ao filme​, só que o roteiro dá muita pinta e para os mais atentos acaba entregando os plot twists muito facilmente.

Não vi os anteriores do diretor Osgood Perkins, mas gostei da fotografia, os planos são todos com o personagem no centro da tela, e consegue ser literalmente sombrio. As perspectvas esticadas e em movimento aumentam a sensação de desconforto e claustrofobia em muitos quadros.

Gostei bastante da trilha sonora também, com músicas dos anos 60 e 70, que adicionam uma camada de nostalgia e estranheza ao filme

Não gostei muito da atriz principal e do coadjuvante mas o N. Cage faz o papel de vilão adorador do demônio com bastante competência. 

Não alcança os arrepios de Hereditário mas combina bem horror psicológico e sobrenatural. 

Nota 7, recomendo para quem gosta do gênero.

Nos cinemas.

Longlegs: Vínculo Mortal (2024) - IMDb


quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Tuesday o último abraço (2023)



Belo filme, um dos mais diferentes que já vi sobre os temas profundamente filosóficos da morte, luto, perda, aceitação, no gênero realismo fantástico.

Selo A24 então já sabe que vem coisa boa...

Somente quatro atores principais, e pouquíssimas locações, grande parte do orçamento do filme deve ter sido investido em efeitos especiais, num caso raro e muito bem vindo em que os efeitos não aparecem mais do que o roteiro.

Para quem é fã do Sandman de Neil Gaiman, remete imediatamente ao bater das asas da Morte, que neste é... uma grande arara falante!

A narrativa é centrada em Zora (Julia Louis-Dreyfus - Seinfeld) e sua filha adolescente Tuesday (Lola Petticrew), que enfrentam a iminente morte de Tuesday, presa a uma cadeira de rodas.

Estréia da diretora crotata Daina Oniunas-Pusic em longa metragem e mandou muitíssimo bem. 

O filme é bem surreal sem cair no melodrama e adota uma abordagem mais reflexiva e metafórica, onde o real e o fantástico se entrelaçam. A Morte muda de cor, de tamanho, de tom... a arara desengonçada é um símbolo muito interessante da finitude inevitável da condição humana.

E a fotografia destaca bem o bico do pássaro que visualmente equivale à foice do ícone que nos acostumamos a ver.

A relação entre mãe e filha é central à trama, e a diretora usa essa dinâmica para explorar as diferentes formas de lidar com a morte: enquanto Tuesday aceita e abraça seu destino com serenidade, sua mãe Zora passa por uma negação dolorosa, intensa e raivosa.

O roteiro consegue segurar bem a atenção até o final, já partindo do inusitado e gerando expectativas interessantes, por exemplo na cena emblemática onde a mãe, em um ato desesperado, queima e engole o pássaro para tentar proteger sua filha. 

Outro aspecto interessante que está em segundo plano no roteiro é uma reflexão sobre a necessidade da morte no mundo. Enquanto ela fica com as duas personagens, nada no mundo externo consegue morrer, e o filme não entra muito nisso, mas não deixa de ser um filme apocalíptico...

Tem um que eu comentei aqui no blog que trata também do tema por esse ângulo: A descoberta.

Já o lado melancólico e objetivo do luto é algo que esse filme compartilha com Sombras da vida e Depois da Vida

E se quiser ver filmes mais leves e delicados sobre esse tema então confira A despedida e A partida

Muito bom ver a Julia Louis-Dreyfus, conhecida por seus trabalhos de comédia nas séries Seinfeld e Veep num papel dramático, mas com camadas profundas de ironia e sarcasmo - que aliás é comentado explicitamente em várias linhas do texto. O roteiro consegue explorar bem os conflitos da mãe, que luta para aceitar a perda iminente da filha.

 Já Lola Petticrew, como a jovem Tuesday, traz autenticidade, leveza e maturidade para o personagem, especialmente em sua interação com a Morte. 

Nota 9, recomendo para quem curte filmes estranhos e poéticos, esse é emocional e filosófico.

Para quem só tem o senso latino da morte como tragédia, acho que não vai gostar muito, mas certamente deve entrar na lista de quem gosta de filmes que desafiam e enriquecem a compreensão do mundo. 

Já saiu dos cinemas, e ainda não entrou nos streamings, então procurem por aí...

https://www.imdb.com/title/tt14682800/




domingo, 25 de agosto de 2024

A sombra de Caravaggio (2022)


Filme italiano que tenta desvendar a vida tumultuada e a genialidade do pintor, retratando-o como uma estrela de seu tempo, cuja vida transgressora e genialidade artística deixaram uma marca indelével na história da arte. Sua vida foi marcada por controvérsias e perseguições pela Igreja Católica devido à natureza transgressora de suas criações. 

Caravaggio preferia retratar pessoas comuns em suas pinturas religiosas, acreditando que elas capturavam a dor da existência humana. Ele tinha uma relação próxima com a marquesa Costanza Colonna, que o protegeu e influenciou. O filme também destaca encontros com figuras históricas como Giordano Bruno e Artemisia Gentileschi, além de explorar a relação de Caravaggio com o Papa Paulo V e seu sobrinho Scipione Borghese.

O Sombra é um funcionário da Igreja a serviço do papa.  A narrativa se desenvolve a partir do ponto de vista dele, que interroga pessoas que conheceram Caravaggio, construindo uma representação indireta do artista. 

O principal Riccardo Scamarcio está muito bem e o elenco também manda bem, destacando a Isabelle Huppert. 

A fotografia do filme merece uma menção especial. Inspirada pela técnica de chiaroscuro de Caravaggio, a cinematografia captura a interação dramática entre luz e sombra, criando uma atmosfera que reflete a turbulência e a intensidade das obras do pintor. 

É delicioso reconhecer os easter eggs de pinturas famosas ao longo do filme. 

E sou só eu ou vcs tb acham que o designer da Microsoft lembrou das aulas de história da arte??

Dispnivel prime video e disney+ (c/ vpn).

https://www.imdb.com/title/tt11877386/ 

Nota 7, recomendo.





O cara da piscina / Poolman (2023)


Já faz um tempo que acabou a era dos contratos e são os atores que produzem os filmes, de vez em quando eles se aventuram na direção. 

Esse é a estréia do Chris Pine, comédia de mistério meio imitando os filmes dos irmãos Coen, mergulha nas peculiaridades de Los Angeles através dos olhos de um limpador de piscina zen interpretado pelo próprio Pine. 

Ele cria presentes de origami, pratica meditação subaquática em sua piscina, escreve cartas reveladoras para Erin Brockovich e tem um estilo excêntrico, alternando entre shorts curtos e um blazer rosa. Além disso, ele é um defensor fervoroso do transporte público na cidade, usando dioramas feitos à mão para suas campanhas. No entanto, todas essas peculiaridades parecem não ter uma conexão lógica

Claramente tenta imitar O Grande Lebowski, que não é nenhuma Brastemp, mas nem passa perto.

Roteiro meia boca, a trama segue o cara enquanto ele desvenda uma conspiração imobiliária, me lembrou um pouco a continuação do Todo Poderoso com o Steve Carell, que é ruim e ainda é melhor que esse... Outro parecido e melhor é o Roger Rabbit. 

Pine abriu o bolso no casting. O elenco estelar inclui Annette Bening, DeWanda Wise, Jennifer Jason Leigh e Danny DeVito.  Pagando bem que mal tem, mas vai ficar como um ponto baixo pra todo mundo.

Nota 6, comédia sem graça, nada sem direção e morre afogado. Não recomendo.

Disponivel no youtube pago e apple tv.


sábado, 24 de agosto de 2024

Admirável mundo novo (2020~)


Baseada no clássica distopia de Aldous Huxley, talvez não devesse ter sido filmada, pois o livro é daquela categoria difícil de adaptar...

A obra apresenta um futuro utópico, onde a sociedade alcançou paz e estabilidade através de medidas extremas como a proibição da monogamia, da privacidade e da família, e onde os seres humanos são geneticamente concebidos e condicionados para servir a uma ordem dominante.

"Brave New World" não é a primeira tentativa de adaptar a obra de Huxley para a tela. O livro já inspirou filmes e outras séries, cada um oferecendo uma interpretação única dos temas distópicos do autor. A série de 2020, no entanto, destaca-se por sua abordagem contemporânea e relevância para os debates atuais sobre tecnologia, privacidade e poder. A série até que mantem a essência tenta atualizar questões levantadas pelo livro em 1932, como controle social, liberdade individual e a natureza humana. 

Considerando outras ótimas produções de ficção que andei comentando aqui como Contos do loop, Ruptura, Electric Dreams, Love, Death & robots e a essencial Black Mirror, e toda a riqueza conceitual e filosófica do livro, deixa um pouco a desejar...

Nota 6 (para a adptação e 10 Ors Concurs para o livro).










El incidente (2014)



Filme mexicano de ficção científica e suspense - só isso já chama atenção.

Encaixa naquela categoria de baixo orçamento com bom resultado.

Apresenta duas histórias paralelas de personagens presos em espaços infinitos e ilógicos, provocando reflexões profundas sobre a condição humana e a percepção da realidade.

O resultado causa bastante desconforto e incômodo, fica no meio termo de realismo fantástico com um toque de suspense, como tem todo um aspecto de claustrofobia, me lembrou Triangulo do medo,  a trilogia O Cubo e o bom Coerência

Narrativa não linear com uma trama complexa e misteriosa de eventos que desafiam a lógica, cada revelação leva a mais perguntas, criando um ciclo de tensão e suspense crescente.

O filme apresenta duas histórias aparentemente desconectadas, uma envolvendo dois irmãos e um policial presos em uma escadaria infinita, e outra sobre uma família presa em uma estrada que sempre retorna ao mesmo ponto.

O filme não apenas questiona a realidade paralela, mas também serve como uma metáfora para as repetições da vida. Os personagens enfrentam a acumulação de objetos e alimentos, e suas reações e modificações  ao longo dos anos são retratadas de forma brilhante. A ideia de que estamos sempre ansiando pelo próximo momento, sem aproveitar o presente, é central na narrativa.

Nota 7, merece uma conferida, especialmente quem gosta do tema loop temporal.

Prime Video: El Incidente





Aporia (2023)


Bom filme, bom argumento, mas pode deixar a desejar para os fãs mais exigentes.

O nome do filme significa "situação insolúvel, sem saída", que é exatamente o que o roteiro apresenta.

Eu gosto muito do tema viagem no tempo, aqui no blog tem vários comentados, como por exemplo Os doze macacos,  Tenet, Coerência, El incidente e a série Dark, mas como sempre digo, depois que eu vi Primer, nunca mais achei outro roteiro bom o suficiente... 

Este filme segue a trajetória de Sophie Rice, interpretada pela talentosa Judy Greer, uma mãe que enfrenta o luto e os desafios da maternidade após a perda trágica de seu marido. 

O melhor amigo da família revela a ela que ele e o falecido marido inventaram uma máquina do tempo que consegue transportar uma única partícula atômica para o passado e sabendo as coordenadas exatas no espaço-tempo é possível transportá-la para o cérebro de uma pessoa no passado, assassinando essa pessoa de maneira indetectável.

Isso oferece a Sophie uma oportunidade de alterar seu passado, matando o assassino do seu marido mas como já devem imaginar por terem visto em outros roteiros, mudar o passado, muda também o presente...

Portanto essa escolha muda irreversivelmente a realidade dos personagens, e ao tentar "consertar" os erros, eles só pioram os problemas... Portanto apesar do argumento simples, são os aspectos éticos e filosóficos da mecânica quântica que levantam o filme. A trama habilmente entrelaçada oferece uma reflexão sobre as implicações da manipulação do tempo, enquanto explora o luto e a resiliência humana. 

Outra coise que gostei é que mesmo buscando conceitos da física quantica, o filme não se preocupa em explicar muito essa parte científica, o que pode ser um pouco confuso. O final é aberto, ou seja o espectador é que decide o que de fato aconteceu.

Nota 7. 

Disponível no Prime Video. 

Aporia (2023) - IMDb


sábado, 17 de agosto de 2024

Memória (2023)


Comparando com clássicos sobre esse tema como Amnésia e passando pelo homônimo Memória de 2021, que ganhou prêmio do júri em #Cannes2021, gostei muto desse mas já aviso, não é para o grande público.

Dramão "estranho" - como o tema exige, chutando a porta com as complexidades de falar de trauma  família e identidade.

Desse diretor eu comentei aqui no blog o Nuevo Orden, que também ganhou o prêmio do júri em #Cannes2020, que adorei e dei nota 10, e também é bizarro, mas esse fica com uma nota 8.

O casal de principais está fantástico. Eu gosto muito da Jessica Chastain que cravei o #Oscar2022 aqui no blog por Os olhos de Tamy Faye.  

Sylvia é uma assistente social e mãe solteira que se depara com seu passado ao reencontrar Saul (Peter Sarsgaard) em uma reunião de ex-colegas de escola. A estranheza do filme já transborda nesse encontro, pois ele a segue até em casa depois da festa.

O roteiro é um pouco fragmentado, alternando entre o presente e flashbacks do passado traumático de Sylvia que envolve abuso sexual na infância. A construção de personagens é tão boa que acaba sendo um defeito do filme, pois é uma família desarranjada e o filme acaba abrindo mão de ir mais fundo nos arcos dos outros membros das famílias do casal, para concentrar neles e na filha dela.

A melhor cena do filme acontece quando todos da família são defrontados com as próprias culpas na sala de casa.

Trata-se então do envolvimento de uma mãe solteira traumatizada com um adulto vulnerável com demência.  Ela é enfermeira que trabalha em um asilo, e ao reencontrá-lo ela acredita que ele é seu agressor do passado e resolve se vingar, mas acaba indo trabalhar para ele. A relação entre os dois se desenvolve de maneira complexa, explorando questões de perdão e redenção. 

A cena de sexo é uma das mais desconcertantes que já vi.

Uma camada bem interessante do roteiro é que num primeiro olhar parece que a família dele é mais rica e num determinado momento Sylvia é hostilizada pelo irmão do namorado como se quisesse dar o golpe do baú, mas há várias cenas onde se demonstra que a sua própria família vive num padrão bem mais alto do que ela, e que o seu padrão de vida mais baixo é na verdade uma maneira de rejeitar e confrontar a própria mãe. Nesse sentido o filme lembra um pouco o maravilhoso Dias Perfeitos

Apesar do ritmo mais lento eu gostei bastante, exceto do final, que é bem trágico, mas parece final feliz, ou seja, o filme consegue ser exatamente a metáfora que se propõe.

Em resumo uma jornada emocional que explora memórias dolorosas, identidade e perdão. A narrativa deixa a gente refletindo sobre nossas próprias experiências e lembranças.

Nota 8, recomendo para quem como eu já teve uma experiência pessoal de cuidar de alguém com demência.

Disponível no MUBI e Prime vídeo.

https://www.imdb.com/title/tt19864828/

sábado, 13 de julho de 2024

Savvusanna sõsarad / Smoke sauna sisterhood / A irmandade da sauna (2023)


Ótimo documentário, entrada da Estônia para melhor filme internacional no #Oscar2024, acabou não entrando na lista de indicados, mas merecia!

No coração de uma pequena cabana de madeira, em meio a uma floresta gelada, mulheres de diferentes gerações se reúnem em um ritual ancestral: o banho de sauna. Mas não é uma sauna comum; é uma sauna de fumaça, uma tradição profundamente enraizada na cultura estoniana e até reconhecida pela UNESCO como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. 

Em Smoke Sauna Sisterhood, a diretora Anna Hints nos leva para dentro desse espaço sagrado, onde mulheres vão limpar os corpos mas também  as almas e compartilham suas histórias, segredos e experiências mais íntimas.

Bela fotografia, imersiva na cabana escura etérea e  enfumaçada, revelando fragmentos de rostos e corpos enquanto as mulheres compartilham suas experiências, dores e alegrias, intercalando a sauna com mergulhos no lago gelado.

Me remeteu ao Entre Mulheres, indicado a melhor filme e ganhador de melhor roteiro adaptado no #Oscar2023. 

Nota 9, recomendo, especialmente aos homens que têm pouca ou nenhuma noção de sororidade e solidariedade feminina.


Disponível no Prime Video / Apple TV / Amazon (com VPN)

domingo, 7 de julho de 2024

Robot Dreams / Meu amigo robô (2023)


Indicação mais que merecida para melhor animação no #Oscar2024.

Se vc acha que animação é só para criança, se engana muito... aliás acho até difícil para as crianças perceberem totalmente a complexidade do filme, por exemplo as camadas em que trata de homossexualidade.

Produção franco-espanhola, roteiro adaptado, narrativa carregada de emoção, a história fala da amizade e separação, conexão e perda entre um cão solitário e seu companheiro robô na vibrante e nostálgica Nova York dos anos 80.

A história começa com o cão vivendo solitariamente em seu apartamento. Ele decide comprar um robô para ser seu melhor amigo, e o laço entre eles se estabelece imediatamente. No entanto, durante um passeio à praia no último dia de verão, o cão acaba abandonando o robô lá. Mesmo se esforçando para retornar ao amigo metálico, o cão busca outras alternativas de socialização. Enquanto isso, o robô fica perdido na areia da praia durante todo o inverno, sonhando com seu retorno ao cão.

Lembra muito o Inteligência Artificial do Spielberg e a ótima série Love, Death and Robots, e ao mesmo tempo também o bonitinho Wall-e

E para os fãs mais antenados vão fazer a ligação com as ideias do Isac Asimov sobre os sonhos dos robôs.

Ótimo filme, fábula sem diálogos, o que prova que o roteiro é excelente, pois as imagens e o contexto falam por si. Embora o filme não apresente diálogos falados, o elenco vocal contribui com uma camada adicional de emoção através de sons e expressões vocais que dão vida aos personagens animados. Esta abordagem inovadora destaca a importância da comunicação não-verbal e a habilidade dos atores em transmitir sentimentos sem palavras. A trilha sonora é cuidadosamente escolhida para complementar a jornada emocional dos personagens, desde a alegria do encontro até a melancolia da separação.

A técnica de animação com desenhos feitos a mão no estilo linha clara (vide o Tintim do Hergé ou as fantásticas graphic novels do Moebius) também colabora para focar a atenção nos aspectos emocionais e psicológicos.

A Big Apple terá sempre infinitos motes para o cinema e aqui não é diferente, esse é um aspecto peculiar da animação, a forma como são mostrados os detalhes da cidade onde se vive de forma rude, e onde as amizades são mais preciosas. Aliás a grande sacada é exatamente representar a "fauna" dos humanos que moram na cidade como animais cada um com sua personalidade.

Nesse sentido me lembrou do MFKZ que comentei aqui no blog.

Nota 9, recomendo, inclusive para as crianças!!!

Disponível no MUBI. Meu Amigo Robô (2023) | MUBI




SILO (2023~)

A Apple TV+ não decepciona quando o gênero é FC!

No catálogo do streaming tem muitas produções de primeira qualidade, sendo que a campeã melhor de 2022 e 2a temporada mais aguardada dos últimos dois anos é Ruptura

Por lá os fãs do gênero encontramos também Fundação, For All Mankind, dentre outras.

O Silo estava na minha fila de séries desde o lançamento no ano passado e não saiu da curva, ótima série de FC dramática adaptada de uma trilogia de livros  do autor Hugh Howey , totalmente focada no roteiro e personagens, com poucos efeitos especiais, mesmo assim com um design de produção muito cuidadoso, e que consegue manter o mistério que prende o espectador até a última cena.

A história se passa em um futuro pós-apocalíptico, onde os últimos sobreviventes da humanidade vivem por várias gerações em um silo subterrâneo com dezenas de andares, protegidos de um (suposto) ambiente tóxico do mundo exterior.

Para viabilizar isso, todo um sistema de governo autoritário baseado em censura e controle genético e da informação tem que ser imposto à força. Nesse sentido, as produções de tv estadunidenses mostram toda a sua sutileza, e lógico que os habitantes mais ricos moram nos níveis mais altos e os trabalhadores no fundo do Silo.

E longe de terem à sua disposição recursos tecnológicos avançados e computadores falantes, uma das coisas mais legais na direção de arte, que até poderia ser mais explorada é que é tudo antigo e reciclado. 

Bom roteiro, vai entrelaçando as subtramas dos personagens com a trama principal de forma que consegue adentrar bem todos os arcos, ate mesmos dos personagens que são praticamente figurantes. A reviravolta é um pouco previsível, a chave da trama só é entregue no último episódio, com um cliff hanger  muito bem feito.

O único elemento do roteiro que considerei mais inverossímil e acaba gerando uns furos em termos do tempo que os personagens gastam para ir de um lugar ao outro é a inexistência de elevadores. Para não ter que explicar muito um dos personagens principais explicita que isso é um dos grandes mistérios a serem resolvidos.

A protagonista principal é uma engenheira, filha de um médico da classe alta que sai de casa adolescente e vai morar com a classe trabalhadora. Ela começa a buscar respostas sobre os mistérios que rondam o tal silo, desvendando segredos perigosos e ameaçando a ordem social.

Nesse aspecto as referências de distopias clássicas são sem dúvida Admirável Mundo Novo e 1984.

Aliás estou chocado que o SyFy produziu uma série com a história do Huxley em 2020 e eu nem fiquei sabendo!!! Vou ter que furar a fila...

O elenco está sensacional, a produtora executiva é a atriz principal Rebecca Ferguson e inclui nomes como Tim Robbins, que junto com o restante estão muito bem.

A série não apenas entretém, mas também deixa reflexões sobre temas como sustentabilidade, sobrevivência, sociedade e a natureza humana. 

Nota 8, recomendo, se alinha com outras grandes obras do gênero e estabelece seu próprio espaço, oferecendo uma visão um futuro possível, para uma humanidade que não quer conviver com o diferente nem preservar o próprio planeta. 

Silo (Série de TV 2023– ) - IMDb