O melhor drama que vi recentemente! Filme belo e extremamente delicado e sensível sobre envelhecimento, a tristeza da solidão, amor e sexualidade na terceira idade.
Indicado ao Urso de Ouro e vencedor do juri ecumênico em #Berlim2024.
Além de todos os seus méritos esse filme tem que ser assistido porque os diretores Maryam Moghadam e Behtash Sanaeeha enfrentam restrições severas e processos judiciais devido ao conteúdo do filme, que desafia normas rígidas do governo iraniano.
Desde 2023, quando as autoridades iranianas começaram a investigar a produção do filme, os cineastas passaram por interrogatórios frequentes e tiveram seus passaportes confiscados, impedindo-os de comparecer à estreia mundial do filme no Festival de Berlim 2024.
O governo iraniano acusou os diretores de propaganda contra o regime, produção e distribuição de conteúdo obsceno, ofensa à moral pública e exibição do filme sem licença oficial.
Para se ter uma noção, na cena em que o casal toma banho junto eles estão vestidos! (1a foto abaixo)
A imoralidade contida no filme é a de denunciar os excessos que o regime iraniano impõe as mulheres.
Nos últimos meses, o Irã tem testemunhado uma nova onda de resistência feminina contra as rígidas leis de vestimenta impostas pelo regime. A campanha Mulheres, Vida, Liberdade, iniciada após a morte de Mahsa Amini em 2022, continua a inspirar protestos, com milhares de mulheres desafiando a obrigatoriedade do hijab e enfrentando prisões e agressões por parte da polícia da moralidade.
Relatos indicam que a repressão se intensificou, com patrulhas reforçadas e câmeras de vigilância monitorando as ruas para identificar e punir quem descumpre o código de vestimenta. Apesar da violência estatal, muitas iranianas seguem resistindo, recusando-se a cobrir o cabelo e encontrando novas formas de desafiar o regime, como protestos silenciosos e manifestações nas redes sociais.
No mês passado, um tribunal iraniano condenou Moghadam e Sanaeeha a 14 meses de prisão, pena que foi suspensa por cinco anos, além de uma multa significativa. O tribunal também ordenou o confisco de todos os equipamentos utilizados na produção do filme. Organizações de direitos humanos denunciaram o caso como um exemplo da censura extrema imposta pelo governo iraniano sobre artistas e cineastas.
O roteiro acompanha Mahin, uma viúva de 70 anos que vive sozinha em Teerã e decide recomeçar sua vida amorosa após décadas de solidão.
Ela não encontra muito com sua família que vive fora do Irã e nem com as amigas, que a criticam por não ter casado novamente.
Uma coisa muito bacana do filme é mostrar o comportamento das mulheres dentro de casa e nos locais públicos de Teerã.
Ela convida um motorista de táxi - Faramarz também nos seus setenta anos e enfretando a sua própria solidão, para sua casa, desafiando a curiosidade invasiva dos vizinhos e o filme mostra a noite que eles passam juntos, com um final surpreendente.
A química entre os protagonistas é o ponto altíssimo do filme, tornando suas interações genuínas e emocionalmente envolventes.
A fotografia é marcada por planos longos e silenciosos, que traduzem o ritmo da vida de Mahin e destacam os detalhes de sua existência cotidiana.
Se vc gosta de filme de tiroteio e efeitos especiais, não vai gostar desse, pois a velocidade e ritmo dele são compatíveis com a idade dos personagens. Uma reflexão sobre a vida, o amor e a resistência diante das adversidades.
A escolha estética reforça a intimidade da narrativa, permitindo ao espectador imergir no universo particular da protagonista. Cada quadro parece cuidadosamente planejado para expressar emoções que as palavras não alcançam, transformando pequenos gestos e olhares em momentos de profunda significância.
Nota 10!! Disponível em vários streamings.
Meu Bolo Favorito (2024) - IMDb