Spring breakers (2012) x How to have sex (2023)

O título How to Have Sex funciona mais ou menos como as imagens abaixo:

Ele não é exatamente o que o título dá a impressão de ser... 

Tem mais no filme do que a história de três adolescentes britânicas que viajam para a Grécia, onde experimentam a farra juvenil de festas barulhentas regadas a álcool e sexo. Desse argumento inicial, o roteiro vai se transformando para abordar temas como consentimento sexual e abuso, e discute a triste realidade em que a sociedade vê as vítimas de estupro como culpadas.

A recente aparição da cantora Anitta em um festa do Oscar 2024 acabou trazendo essa discussão para as redes.

Já Spring Breakers é do mesmo diretor do polêmico Kids de 1995, retrato cru e sem filtros do cotidiano de adolescentes em Nova York, regado a drogas, sexo e bebidas. Este filme marcou por sua abordagem intensa e sem censura da juventude conturbada.

Spring Breakers foi distribuído pela A24, e encaixa como luva no estilo da hoje produtora blockbuster. O argumento também parte das movimentadas festas de férias americanas, mas tem uma estética psicodélica, e também vai além da crítica de uma juventude vaidosa, egoísta e conturbadam dos shortinhos e biquinis que aparecem no poster. 

De certa forma até parece um pouco com Cidade de Deus e Caçadores de emoção.  Quatro amigas da faculdade decidem assaltar um restaurante para financiar suas férias de primavera na Flórida. No entanto, elas acabam se envolvendo com um traficante de drogas, que aliás é o melhor personagem do filme, feito pelo James Franco. A fotografia do filme é vibrante e colorida, refletindo a energia frenética e desenfreada das férias de primavera. A trilha é eletrônica e psicodélica, no clima de festa sem fim.

"Spring Breakers" é bem ambiguo eu gostei pela abordagem diferente, mas ao mesmo tempo ele fica no fio da navalha com conteúdo explícito e a representação (ou crítica da representação?) das mulheres, que assumem o papel de vilãs ambiciosas. 

“How to Have Sex” parte do mesmo contexto - três amigas britânicas que vão de férias juntas sem supervisão dos pais e esperam uma semana de aventuras selvagens em um resort de festas na Grécia. Mas logo o roeiro deixa claro que a farra do primeiro plano é só um pretexto para ir mais fundo nas questões de abuso, empatia, consentimento, violação e outras zonas cinzentas em torno do sexo. Algumas cenas lembram bastante o Kids. 

O filme venceu o prêmio Um Certo Olhar em #Cannes2023.

Nota 8 e 7 respectivamente, recomendo.

Spring Breakers: Garotas Perigosas (2012) - IMDb

Disponível netflix: Spring Breakers - Garotas Perigosas | Netflix

How to Have Sex (2023) - IMDb

Disponivel prime video: Prime Video: How to Have Sex

The Old Oak (2023)

Já faz tempo que Ken Loach conquistou um lugar no meu panteão dos top 5 melhores diretores de cinema.

Indicado para Palma de Ouro em #Cannes2023.

Os filmes dele que estão comentados sumariamente aqui no blog são o I, Daniel Blake, e o Sorry, we missed you. Não seria muito errado dizer que esse último compõe uma trilogia com esses outros dois.

Confira o canal dele no youtube: KenLoachFilms - YouTube

"The Old Oak" é mais um da filmografia do diretor que aborda questões sociais e políticas contemporâneas com uma perspectiva única. 

No centro da crise migratória na Europa, o roteiro é uma crítica mordaz à situação dos refugiados na Inglaterra e ao tratamento que recebem das comunidades locais. A história se passa em uma cidade mineira no nordeste da Inglaterra, onde o personagem principal, TJ Ballantyne, é o proprietário de um pub - que dá nome ao filme.  TJ está  está divorciado e deprimido com um filho adulto que não fala com ele.

Ele começa a ter problemas quando se recusa a abrir uma sala do bar há muito tempo fechada para os moradores locais se reunirem e se organizarem contra a Mineração que está demitindo em massa. No entanto, ele permite que o espaço seja usado para jantares comunitários para os moradores e refugiados sírios, incluindo Yara, uma jovem síria que vive com seu irmão e mãe idosa, ansiosa por notícias de seu pai detido pela ditadura na Síria. TJ forma uma amizade sincera com Yara, que é mal vista pelos frequentadores do pub. 

O elenco, composto principalmente por atores não profissionais, oferece performances autênticas que adicionam uma camada extra de realismo ao filme. Dave Turner interpreta o personagem principal, TJ Ballantyne. Ebla Mari desempenha o papel de Yara, uma refugiada síria que forma uma amizade inesperada com TJ. 

Assim como nos demais filmes do Ken Loach, o duro cotidiano dos personagens é abordado sem rodeios e constrói uma conexão emocional com o espectador, ao mesmo tempo que vai levantando as temáticas subjacentes na história.

Aqui, a abordagem ousada do diretor está na demonstração de que o trabalhador local branco inglês não está em situação melhor que os refugiados que adentram opaís.

Me remeteu na hora ao curta The Long Goodbye, que ganhou o #Oscar2022 de melhor curta metragem.

Ele está disponível no youtube:

A fotografia é notável por sua beleza e autenticidade. Filmado em película Kodak, o filme destaca a beleza de capturar a vida, enquanto fala com uma verdade muito sincera sobre a coragem que o viver exige . A cinematografia oferece uma forte sensação de lugar, capturando a atmosfera da cidade mineira do interior inglês.

Nota 9, recomendo para quem consegue sentir empatia e compaixão.

The Old Oak (2023) - IMDb

Disponível no MUBI.

The Old Oak (2023) | MUBI

O rei da TV (2022-)

Essa  série gerou bastante polêmica e uma reação negativa nos filhos de pessoas retratadas, por causa da abordagem  controversa da vida de um dos maiores ícones da televisão brasileira, Silvio Santos. 

Apesar das reclamações, a plataforma plataforma Star+ está surfando no sucesso de audiência.

Para resumir, trata-se de uma visão multifacetada e com muuuita licença poética da vida do comunicador, desde suas origens humildes até seu estrelato como apresentador e empresário.

Para mim particularmente, exatamente a licença poética é que é o melhor, e então acho bem compreensível que os diretamente envolvidos tenham odiado.

O contexto da série é rico e complexo, refletindo a trajetória de Silvio Santos, cuja vida se entrelaça com a história da mídia no Brasil, e por isso merece uma conferida.

Vendo as duas temporadas, várias vezes busquei no youtube os vídeos originais e depoimentos do que é retratado, conclui-se que muita coisa mudou na TV nos últimos 40 anos, muita coisa não...

A narrativa começa mostrando a infância, desde os primeiros passos como camelô até a consolidação de seu império televisivo. 

A série não hesita em explorar os aspectos mais polêmicos de sua carreira, incluindo sua candidatura à Presidência, a questão do rombo financeiro e aspectos do casamento e relacionamento familiar.

 O próprio Silvio Santos expressou descontentamento com a representação da série, considerando-a uma "meio piada" e mal feita. 

Suas filhas e outros que trabalharam com ele também se manifestaram, apontando inverdades e uma representação exagerada de seu caráter.

O roteirista André Barcinski, por outro lado, reconheceu que a série poderia causar desconforto ao retratar a história de uma pessoa que sempre controlou sua própria narrativa.

Acho que esquenta o debate sobre biografias dramatizadas de pessoas públicas ainda vivas...

Vide por exemplo Bingo, o rei das manhãs. Outras biografias parecidas que comentei aqui são Chatô, o rei do Brasil, a do Cacrinha e da Hebe. 

De todo modo, nessa sociedade imagética e midiática a mim pelo menos me deixou pensando coisas sobre fama, concessão de TV e cultura pop no Brasil.

Eu gostei mas não vou nem dar nota, assistam e tirem suas próprias conclusões...

Disponível Star+.

O Rei da TV (Série de TV 2022– ) - IMDb

Chatô, o rei do Brasil (2016)

Resgatando o curtíssimo comentário que postei no facebook em 2017, para compor com o post sobre a série O Rei da TV:

Para quem conhece a historia do personagem, ou o livro,  apesar de todas as críticas e dificuldades entrega sim um interessante exercício de cinema. 

Mas a quem não tem esse conhecimento, o filme não conseguirá chegar e vai passar como extravagante e bizarro...

Nota 7.

Atualização 2024: A produção do filme foi um processo longo iniciado em 1995, com previsão de lançamento para 1997, depois adiado para 1999 e  interrompido, sendo finalmente lançado em 2015. A produção enfrentou problemas legais e acusações de mau uso de verbas públicas. O diretor Guilherme Fontes chegou a ser condenado e a pena foi convertida.

Chatô: O Rei do Brasil (2016) - IMDb

Dumb money / Dinheiro fácil (2023)

Do mesmo diretor do ótimo Eu, Tonya. 

Eu sou fã do Paul Dano por causa do Pequena Miss Sunshine. 

Comédia dramática, roteiro adaptado, baseado em eventos reais. 

A história gira em torno de Keith Gill, um homem comum que inicia uma revolução sem precedentes ao catapultar ações de uma empresa e fazer muita gente simples ganhar uma boa grana.

Os fatos ocorreram durante a pandemia, pequenos investidores se uniram por meio da plataforma Reddit para derrotar os grandes fundos de investimento, no fenómeno que ficou conhecido como “meme stocks", com enfoque nos acontecimentos em torno das ações da empresa GameStop.

Bom elenco, com destaque para o Seth Rogen como capitalista inescrupoloso.

Alguns parecidos comentados aqui no blog: Na roda da fortuna, A grande aposta, Jerry & Marge Tiram a Sorte Grande, 

Nota 8, recomendo. Leve e despretensioso, bom entretenimento.

Dinheiro Fácil (2023) - IMDb

A grande aposta / The big short (2015)

Resgatando o post no facebook de 2016, para compor com o Dumb Money, lembrando que naquela ocasião ocorreu um golpe no Brasil:

Boooom, mas não vai agradar a muitos brasileiros, pois demonstra, inclusive por meio de depoimentos de celebridades, como são fabricadas as crises e como saem impunes e bem remunerados os responsáveis por elas. 

O forte do filme é a montagem, com cara de documentário narrado em primeira pessoa. 

Falta também a vivência do contexto, pois enquanto a classe média americana acampava para devolver as casas para os bancos fraudulentos os Brasileiros batiam recorde de compras no exterior. 

Christian Bale está muito bem, mas Steve Carell está melhor no papel dramático! 

E Brad Pitt não recusa papel de coadjuvante se pagarem bem!

Nota 9 - recomendo!!

https://www.imdb.com/title/tt1596363/

Eu, Tonya (2018)

Resgatando meu post no facebook em 2018, para compor com o Dumb Money, do mesmo diretor:

Ótimo filme! 

Na mesma liha dramática, mas em certos aspectos  - por exemplo no arco entre mãe e filha - chega a ser melhor que Lady Bird, que já é bem acima dos concorrentes. 

Vai entender a academia... Teria condições de concorrer a melhor filme e nem se compara com os péssimos Get Out e The Shape of Water, mas nem foi indicado nessa categoria... 

Americano gosta de xaropadas do tipo La la land, não de filmes baeados em histórias reais. 

É isso que a personagem fala quando cai ensanguentada no ringue.

Por essas e outras já sabemos que Margot Robbie não ganha,  mas superou até a Meryl Streep.

 Aliás pode dar o #oscar2018 para a atriz coadjuvante Alisson Janney cujo personagem e performance são, de longe, os melhores da temporada. (Atualização 2024: essa eu acertei!!!)

Nota 10!!!

Eu, Tonya (2017) - IMDb

Estranha forma de vida (2023)

 

Almodóvar é ainda melhor com os curtas!

Antes de Mães paralelas dirigiu o ótimo A voz humana e esse, com seu estilo próprio também é um sucesso!

Pedro Pascal e Ethan Hawke estão sensacionais, trazendo vida a personagens complexos com uma química muito bacana. 

O curta mergulha no gênero faroeste com uma narrativa ousada e estética refinada. em uma abordagem ainda incomum em 2024, os personagens são homossexuais.

Indicado a Palma Queer em #Cannes2023.

O roteiro traz um drama íntimo e complexo, uma  história de reencontro e revelações entre dois homens, o cenário e contexto é de  faroeste, mas a trama é impregnada de temas contemporâneos de amor e desejo que são constantes na filmografia do Almodovar.

O diretor é bem conhecido por seu estilo único e habilidade de explorar a profundidade emocional dos seus personagens. E nesse não é diferente, "Estranha Forma de Vida" é marcado por uma sensibilidade que captura tanto a tensão quanto a intimidade dos protagonistas. 

Destaque para a canção que dá nome ao filme, interpretada por Caetano Veloso.

Nota 8, recomendo.

Disponível em vários serviços de streaming.

Estranha Forma de Vida (Curta 2023) - IMDb

Les chambres rouges (2023)

Convivendo com filmes recentes de julgamento como o Anatomia de uma queda, esse é desconcertante, incômodo e vai mais fundo na psiquê dos serial killers e do fascínio sinistro que eles exercem.

É um exercício de cinema bem interessante, tratando de frente o contexto da nossa sociedade contemporânea  midiática e imagética onde tudo que vende pode vender mais um pouco, especialmente o sofrimento das vítimas de crimes.

Faz um contraponto com outros contemporâneos que também tratam da banalização do mal como o Zona de Interesse. 

A sinopse é o julgamento de um serial killer de meninas adolescentes, os crimes são hediondos e bem pesados, envolvendo tortura e mutilação das vítimas que não chegam a ser mostradas explicitamente, mas nem precisa.

A narrativa segue Kelly-Anne, interpretada por Juliette Gariépy, uma jovem obcecada pelo julgamento do serial killer Ludovic Chevalier. 

Ela  chega a dormir na porta do tribunal para conseguir um lugar na sala do juri. 

O roteiro tem definitivamente uma abordagem original e desafia as convenções do gênero thriller psicológico.

O personagem vai sendo construído e o espectador vai descobrindo que ela é uma figura complexa que transita entre dois mundos contrastantes. 

Ela é uma modelo linda e bem sucedida, metódica, personificação da perfeição visual, mas, fora dos holofotes, tem atividades suspeitas na dark web, onde ganha dinheiro com atividades ilícitas e participa de uma comunidade secreta onde imagens e vídeos dos assassinatos são leiloados para um pequeno grupo que paga altíssimas somas por eles.

A forma como as famílias das vítimas vão sendo expostas no julgamento também é um aspecto do filme bastante incômodo.

Ela se envolve com uma outra jovem que também dorme na porta do tribunal para ver o julgamento, mas que representa o seu alter-ego, que ela resolve trazer para dentro do apartamento.

A modelo vê no assassino um  reflexo distorcido de si mesma, admirando a sua capacidade de manipular a percepção alheia através de performances calculadas, algo que ela mesma faz com a jovem que traz para dentro de casa.

Um detalhe importante é que o personagem do assassino não tem falas. Nesse sentido reforça a comparação com o trabalho da modelo, que também performa somente com a imagem.

O roteiro vai tecendo uma teia complexa de realidade e fantasia, onde a busca de Kelly-Anne pela verdade se torna uma jornada fria, sombria e introspectiva. 

Portanto é um filme que tem mais camadas do que cebola. 

Vai mais fundo no tema do que vários do gênero, bem além do Psicopata Americano e me lembrou um pouco A casa que Jack construiu , até a série Dexter é mais levinha. 

O diretor Pascal Plante não é muito conhecido e mandou bem demais. 

A fotografia, sob a direção de Vincent Biron, é uma das características mais marcantes do filme, a utilização de luz, sombra e cor vai compondo a narrativa e vai dando os tons psicolõgicos dos personagens. 

Nota 8, recomendo para quem dá conta de lidar com tantas camadas da cebola.

 Red Rooms (2023) - IMDb

A casa que Jack construiu (2018)

Resgatando meu post curtinho no facebook em 2018, para comparar com o Les chambres rouges:

Sinistro. Serial killer estilo e roteiro do Lars von Trier ---> pesado... 

Lembra o Psicopata Americano mas bem mais violento. 

Só para quem tem estomago. Bom elenco. Nota 7, recomendo.

A Casa que Jack Construiu (2018) - IMDb

El conde (2023)

Augusto Pinochet e Margaret Tatcher vampiros! Se o filme  não tivesse mais nada, só esse argumento já valeria a pena conferir!

Visualmente um dos melhores do ano! Belissimamente filmado em preto e branco, as cenas de voo são um verdadeiro ballet alado.

Indicação merecidíssima de melhor fotografia no #Oscar2024, com certeza mais merecida do que o malfadado Oppenheimer que ganhou. E foi também indicado a Leão de Ouro em #Veneza2023.

O roteiro é uma proposta ácida, sombria e engraçada que joga com os elementos clássicos do gênero para construir uma sátira crítica política, metáfora muito interessante sobre o fascismo e o poder - mais sanguessuga impossível...

Catarse total  com o nosso Brasil no tocante a questão da família do ditador.

Direção de Pablo Larraín, o anterior Spencer achei que foi erro de casting, já o Jackie é fantástico, mas sou suspeito para falar da Natalie Portman, sou eterno súdito da Rainha Amidala, que ganhou o oscar por Cisne Negro.

Nota 8, recomendo. 

E se vc gosta de filmes humor de vampiro com humor não tem como não ver o longa e a série O que fazemos nas sombras. 

O Conde (2023) - IMDb

Disponível netflix:

O Conde | Site oficial da Netflix

 

Aquarius (2016)

 

Resgatando minhas impressões postadas no face em 2019.  Relendo o post em 2024, depois de assistir Retratos Fantasmas, acho que peguei muito pesado, no conjunto da filmografia do Kléber Mendonça Filho ele ganha outro vigor e hoje me parece extremamente coerente...

Não tinha noção de que esse e O som ao redor tinham sido filmados no próprio apartamento do diretor.

De toda forma fica o registro do que achei na época:

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Demorei demais para assistir esse filme e suspeito que ele ficou fora de contexto para mim. 

Sei é que é premiadíssimo, mas não vi por onde merecer ser indicado a uma palma de ouro... 

Trata sim de temas relevantes para a sociedade brasileira e que geraram a conjuntura atual, mas não senti tanto vigor assim no roteiro... 

ritmo lento, planos muito estáticos, mesmo quando os personagens estão se movimentando, a personagem da tia que aparece no início do filme simplesmente não consegui entender a relevância para a trama...

o "empoderamento" feminino segue sendo uma necessidade, mas talvez há dois ou três anos o caso Weinstein que impulsionou o #oscar2018 gerou um contexto que não está tão em evidência hoje, pelo contrário tem até parlamentar levando a esposa para sentar no colo em plenário. 

Nota 10 para o empoderamento, nota 6 para o filme.

Aquarius (2016) - IMDb

Retratos fantasmas (2023)

 

Kleber Mendonça Filho é PHODA.

Que belo exercício de memória e uma declaração de amor ao cinema, com jeito, tempero, sotaque e tom brasileiro e recifense!

Este filme foi a indicação do Brasil para o #Oscar2024 mas não entrou na lista final... O vencedor Zona de Interesse,  o bom A Sala dos Professores e o ótimo Dias Perfeitos todos mereceram mas com certeza Retratos Fantasmas mereceria mais que Io Capitano ou  Sociedade da Neve. 

Indicado ao prêmio Golden Eye em #Cannes2023.

Kléber vai construindo uma filmografia única, com linguagem própria, marcada pela crítica social precisa e cirúrgica, ao mesmo tempo que consegue decantar nos filmes uma memória histórica altamente conectada com a vivência e experiência local.

São exemplos de que o melhor que podemos falar para o mundo estará sempre embasado no nosso próprio mundo. Da minha janela eu vejo o mundo...

Este vem na sequência de O som ao redor, Aquarius e o excepcional Bacurau. 

O filme funciona como uma colagem afetiva, um álbum dos retratos fantasmagóricos, um depoimento narrado em primeira pessoa com uma marca fortemente autobiográfica que explora a história do centro da cidade do Recife, contada a partir das salas de cinema. 

Na primeira parte o diretor explora a sua história a partir da história do apartamento de sua mãe. Eu não tinha noção de que os filmes anteriores dele tinham sido locados aí.

A partir desse olhar profundamente vivenciado localmente o roteiro expande gradativamente a abrangência geográfica das ponderações memorialísticas do diretor: da casa à rua, depois ao bairro de Setúbal, e por fim a cidade.

Nesse sentido o filme tem todo um sentido arquitetônico e urbanístico --> s e n s a c i o n a l.

Uma coisa muito bacana é a forma como ele vai resignificando os títulos dos filmes nas fachadas dos cinemas, de acordo com cada momento histórico / político / social.

A cena final grudou na minha cabeça. Ela mostra o diretor pegando um uber e conversando com o motorista sobre os temas do filme, ao som da música Rise do Herb Alpert.

A trilha sonora está nesta PLAYLIST do youtube, destacando a música Rise. Aí me diz se tem outra que combina mais com um rolê pela cidade, de metrô, ônibus ou táxi, em qualquer dia ou horário:

Veja a entrevista para o Metropolis:

Enfim, um filme brasileiro maiúsculo, coerente e  necessário, que marca a filmografia deste grande cineasta brasileiro.

Nota 9, recomendadíssimo, fiquei só pensando como BH mereceria algo do tipo.

Retratos Fantasmas (2023) - IMDb

Disponível netflix:

Retratos Fantasmas | Netflix

Dias perfeitos (2023)

 

Belíssimo!!

Eu caí de amores pelo Win Wenders por causa do Asas do Desejo e da continuação Tão Longe tão perto. Continua no meu top 5 dos filmes mais bonitos do cinema.

E esse é mais uma pérola da filmografia do diretor.

Indicado a melhor filme internacional no #oscar2024 e palma de ouro em #Cannes2023. tendo ganhado melhor ator.

Um filme que captura a beleza da simplicidade e a profundidade das pequenas coisas e situações da existência humana, praticamente sem palavras, no melhor exercício de cinema que pode haver.

Entre as partes mais bonitas estão as cenas de sonho, que me remeteram ao Le livre d'ímage do Godard. 

O filme se passa em Tokyo e na filmografia do Wenders a cidade, o local é sempre visceral e emocionalmente conectado à história e aos personagens.

Neste caso a arquitetura dos banheiros públicos e parques de Tokyo são elementos de destaque.

O roteiro , escrito por Wenders e Takuma Takasaki é uma obra de arte em si. A narrativa mostra minunciosamente quinze dias na rotina de Hirayama, um zelador de banheiros públicos, que encontra alegria em sua vida pacata e rotineira. 

Ele cumpre seu trabalho com zelo, detalhismo e dedicação e por meio da rotina a sua história e origem vai se revelando e a rotina aparentemente mundana de Hirayama é transformada em algo poético e significativo. 

O roteiro é notável pela delicadeza e reverência à simplicidade e aos pequenos detalhes e prazeres da vida cotidiana. Nesse sentido, mesmo sendo alemão Wenders consegue trabalhar com a essência do cinema e cultura japonesas.

Uma coisa muito bacana é o ritmo mais lento, e o uso de coisas analógicas - livros, fitas K-7, câmeras antigas, mesmo na cidade mais tecnológica do planeta. 

O ator principal é o Kôji Yakusho, cuja performance é delicada e rica em muitas nuances, com pouquíssimas palavras, comunicando então quase tudo através das ações e expressões faciais e corporais. Ganhou melhor ator em #Cannes2023.

A trilha sonora é sensacional, as fitas K7 são um elemento principal na história estão lá Nina Simone, The Animals, The Velvet Underground, Patti Smith, Rolling Stones entre outros. Cada música complementa perfeitamente a atmosfera em cada cena, aprofundando a experiência emocional do espectador.

Nota 9, é daqueles flmes que ficam na cabeça e deixam pensando por dias! 

Agora se o seu tipo de filme tem que ter perseguição de carro e tiroteio, melhor nem tentar.

Nos cinemas.

Dias Perfeitos (2023) - IMDb

A sociedade da neve (2023)

 

Tudo o que vende pode vender um pouco mais.

Não me entra na cabeça usar tanto recurso para refilmar mais uma vez essa história, entre longas metragens e documentários essa é a nona versão...

E além do mais ela é muito melhor e mais fielmente contada nas muitas entrevistas e documentários já feitos.

Mais que isso só se fizerem um videogame.

Indicado ao #oscar2024 de melhor filme internacional, inapelavelmente vencido pelo Zona de Interesse.

O problema é que o brasileiro Retratos Fantasmas mereceria muito mais estar entre os indicados.

E foi indicado também para melhor maquiagem e penteado que ficou com o Pobres Criaturas. 

Difícil destacar algum diferencial, se muito, pelos efeitos especiais, em alguns momentos até apelativos o roteiro não foge aos gatilhos emocionais esperados.

Nota 4, não recomendo.

Disponível netflix.

Rustin (2023)

Indicado a melhor ator no #oscar2024, merecido e infelizmente preterido para o mediano Oppenheimer...

É aquele tipo de filme que demanda um repertório histórico e uma vivência com relação à luta pelos direitos civis nos EUA que falta aos brasileiros.

Isso no entanto não prejudica a compreensão do roteiro e o reconhecimento do ótimo trabalho do Colman Domingo, talvez no melhor papel da sua carreira, tendo recebido diversas outras indicações e premiações.

Trata-se da  biografia de Bayard Rustin, um dos principais organizadores de uma Marcha realizada em Washington, em 1963. 

Produção executiva do casal Barack e Michelle Obama.

Padrão netflix, ótimo elenco e roteiro mais ou menos, ainda assim, bom roteiro, com a pegada histórica e bom humor, tropeçando um pouco no melodrama.

A trilha sonora é um ponto alto, composta por Branford Marsalis. 

Rustin Soundtrack (by Branford Marsalis) (download-soundtracks.com)

Nota 7, recomendo.

Disponível netflix:

 Rustin | Site oficial da Netflix

A sala dos professores / Das Lehrerzimmer (2023)

 

Indicado para melhor filme internacional no #Oscar2024.

Nesta ano a academia resolveu olhar para os dramas escolares, indicando também Os Rejeitados. 

Confira nesse link acima uma listinha de filmes sobre esse tema que estão comentados aqui no blog, com destaque para O professor substituto. 

Se com toda a flexibilidade brasileira o dia a dia da escola tem material para escrever muito roteiro, imagine na rigidez de uma escola fundamental alemã.

A primeira coisa que a Maira estranhou é ausência de um disciplinário que impede os alunos fugirem da escola na hora que bem entenderem.

O filme aborda de maneira germânica e provocativa as relações complexas entre as pessoas que trabalham no ambiente escolar, que francamente são as mesmas seja uma escola primária ou em uma universidade...

A primeira cena já mostra alguns professores coagindo os representantes de uma turma a denunciarem colegas suspeitos de uma série de roubos que estão ocorrendo na escola. 

A protagonista principal é a professora da 6a série que está no seu primeiro emprego. Ela  acaba obtendo uma prova de quem é o culpado, mas utilizando de meios questionáveis. 

Após fazer a denúncia uma série de dilemas sociais, éticos, morais e emocionais vão se desdobrar e o roubo passa a ser o menor dos problemas diante do imbróglio que só aumenta, e infelizmente termina de maneira muito triste (na minha opinião, pois o final é um tanto aberto a diferentes interpretações).

Nota 8, recomendadíssimo para quem é ou já foi professor ou aluno...

Nos cinemas.

A Sala dos Professores (2023) - IMDb

American fiction (2023)

 

Ótimo filme!! 

Cinco indicações para o #oscar2024, incluindo melhor filme, melhor ator principal  (Jeffrey Wright) e coadjuvante (Sterling K. Brown) , melhor roteiro adaptado, e melhor trilha sonora original.

Todas indicações merecidíssimas, com destaque para os atores que entregam uma performance e uma química sensacional, mas de fato é o roteiro extremamente inteligente que é o ponto alto do filme.

A trama gira em torno de um escritor negro muito erudito, que se recusa a "baixar o nível" e perpetuar estereótipos em suas obras, visando o sucesso comercial. 

Frustrado com a falta de reconhecimento, ele decide escrever um romance popular recheado de clichês, utilizando um pseudônimo,  satirizando a indústria editorial e confrontando suas próprias contradições - e a coisa explode de tanto vender.

As coisas se complicam quando ele é convidado a fazer parte de um júri para um prêmio de literatura e o tal livro entra na lista dos concorrentes.

Para piorar um produtor de Hollywood aparece querendo comprar os direitos do livro e fazer um filme, e na tentativa de encerrar a pegadinha, ele fala que só vai aceitar se a editora aceitar mudar o nome do livro e do filme para F****-SE! Porém eles aceitam...

Ou seja é o meu estilo favorito de filme que começa ruim e vai piorando.

A trilha sonora tem relação direta com o nome do personagem principal - Thelonious "Monk" Ellison, que faz uma referência direta ao Thelonious Monk,  um dos mais importantes da história do Jazz. Aqui em casa tenho coletâneas dele e esse é mais um motivo para ter adorado o filme!

American Fiction Soundtrack (by Laura Karpman) (download-soundtracks.com) 

O final é surpreendente e pode deixar muita gente na dúvida se entendeu mesmo o roteiro.

Nota 8 - Recomendadíssimo!

Disponível prime vídeo: 

Prime Video: American Fiction

Ficção Americana (2023) - IMDb