quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Pobres criaturas (2023)


Se no #oscar2023 o blockbuster foi o Tudo em todo lugar ao mesmo tempo, no #oscar2024 quem vai passar o rodo vai ser esse...

11 indicações:  Melhor Filme, Melhor Direção (Yorgos Lanthimos), Melhor Atriz (Emma Stone), Melhor Ator Coadjuvante (Mark Ruffalo), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Trilha Sonora, Melhor Figurino, Melhor Design de Produção, Melhor Montagem, Melhor Fotografia e Melhor Maquiagem e Cabelo…

Com certeza vai ganhar um monte.

Merecidamente, vá lá, mas também não é um filme nota 10... porém, no conjunto, realmente entrega uma experiência cinematográfica surrealista e marcante.

A direção de Yorgos Lanthimos é notável. Ele consegue contar sua história de maneira criativa e inusitada, misturando elementos de terror, drama, ficção científica e comédia, fora da caixa, mas com equilíbrio.

Da filmografia anterior do diretor eu não curti muito O Lagosta, mas adorei o Sacrifício do Cervo Sagrado.

Difícil achar adjetivos para ele, mas "diferente", "excêntrico" ou "bizarro" com certeza se aplicam...

O roteiro adaptado é a história de Bella Baxter uma bebê ressucitada por um cientista maluco por meio de um transplante de cérebro para o corpo da sua própria mãe que se suicidou. As referências de Frankenstein são explícitas.

Lembra muito o estilo e os filmes do Tim Burton

Porém aqui o foco da narrativa é a emancipação feminina, abordada de maneira visceral, pois ela vai literalmente se apossar do corpo em uma jornada de autodescoberta e libertação. O desenvolvimento do cérebro do bebê no corpo adulto é acelerado e da falta de coordenação motora e gagueira, rapidamente ela se torna uma mulher inteligente e perspicaz, com falas afiadas e uma visão do mundo absolutamente desvinculada de qualquer amarra ética ou norma social.

O curioso então é que a maior virtude do filme torna-se também o seu maior defeito: para sublinhar essa liberdade que permeia o amadurecimento da personagem, a sexualidade é colocada em primeiro plano mas talvez não precisasse de tanta nudez e cenas de sexo para conseguir o que o roteiro quer.

Mesmo sendo a noiva prometida ao auxiliar do cientista, ela foge com um amante mulherengo para uma longa aventura  que vai cobrir de forma muito interessante tudo que pode ocorrer num relacionamento sexual, terminando em casamento... mas antes ela vai morar em um bordel.

O elenco está muito bem. Emma Stone deve ganhar seu segundo Oscar depois de La La Land. 

Mark Ruffalo que destaquei aqui no blog pela atuação em I know this much is true, também merece a indicação pelo advogado Duncan Wedderburn cuja macheza vai sendo descontruída a cada cena. O personagem dele me lembrou um pouco o do Tom Hanks em Magnólia

O cientista é representado pelo gigantesco Willem Dafoe que também mereceria ser indicado. O efeito do arroto dele é um dos melhores do filme. 

A fotografia  é impressionante, forte candidata. O filme apresenta imagens e composições belíssimas, tanto em preto e branco quanto em cores, enquadramentos incomuns e lentes pouco vistas no cinema. A palheta evolui com a vida de Bella. Os efeitos visuais mesmo os mais exagerados funcionam muito bem.

Igualmente belíssimos são a direção de arte e figurinos, misturando elementos de filme de época com engenhocas futuristicas, o que  definitivamente consegue capturar o espírito da virada do século XIX para o século XX.

As cenas de epígrafe de cada capítulo dão a impressão de que estamos lendo um livro dessa época.

Nota 8, recomendo. Se não agradar nem o coração nem a razão, vai agradar a visão.

Se tivesse essa categoria, ganharia a melhor dança:

Nos cinemas.






















terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Viver / Living (2022)

 


Emocionante. Uma reflexão profunda sobre achar um sentido para cada dia.

Baseado no clássico “Ikiru” de Akira Kurosawa, que não assisti...

Indicação mais que merecida para o fantástico Bill Nighy no #Oscar2023 e o filme concorreu também a melhor roteiro original.

A sinopse é um funcionário público que descobre que tem câncer terminal e decide fazer algo significativo com o tempo que lhe resta. A história se passa na Londres dos anos 1950 o que dá um charme todo especial ao filme.

Os personagens do escritório são ótimos e o filme vai mais fundo na exploração da relação do personagem com seu filho.

O ritmo é um pouquinho lento, mas isso também se encaixa no roteiro pois apesar da pressa o personagem prioriza um "tempo de qualidade".

Nota 9, recomendo para quem já sabe que viver no piloto automático não é viver..

Disponível HBO.

Viver (2022) - IMDb

Napoleon (2023)

 


Ridley Scott e Joaquin Phoenix têm muitos filmaços no currículo, mas esse não entra muito nessa categoria...

No #Oscar2024 está indicado a três categorias técnicas: efeitos visuais, design de produção e figurino essa última a mais merecida.

Porque em termos de roteiro e desempenho do elenco realmente não empolga muito. A coadjuvante Vanessa Kirby também já teve papéis melhores, p. ex. em Pieces of a Woman

Para quem dirigiu Alien, Blade Runner e Gladiator, esse flopou... fica devendo na exploração das questões políticas que estão minimizadas e reduzidas, na relação do casal, na preparação dos figurantes com sotaque inglês..

Guilhotinado, nota 6.

Napoleão (2023) - IMDb

Io capitano (2023)

 


Em que pese toda importância e relevância de tratar do tema da imigração ilegal, na lista de mais de 80 filmes que disputaram a indicação de melhor filme internacional para o #Oscar tem outros melhores...

In profile: the 88 international feature Oscar 2024 contenders

E não é o primeiro filme no Oscar que acaba reforçando o preconceito que pretendia denunciar...

A sinopse é a história dos primos Seydou e Moussa decidem deixar Dakar, no Senegal, e embarcar em uma épica jornada rumo à Europa, em busca de um futuro melhor.

Para mim o filme já fracassa na rota que eles fazem, percorrendo mais de 4000Km no interior da África  atravessando o deserto, sendo que Dakar é uma península... seria mais plausível uma rota clandestina de lá até algum porto de travessia ilegal do Mediterrâneo... e o argumento que dá o título do filme de que um adolescente franzino consegue pilotar um barco sem nunca ter pisado em um, e ainda por cima controlar um motim de homens muito mais fortes, para mim também simplesmente não cola...

O filme aposta em focar no sofrimento físico, quando há todo um universo humano, ético e político por trás da crise migratória na Europa, que não são abordados... Até mesmo o arco da família no qual o filme investe no início, literalmente fica pelo caminho.

Aí os perrengues que o personagem enfrenta perdem o sentido, pois se constrói um herói - negro - mas fortemente marcado por uma visão francamente romântica e... branca.

Então só dá para lamentar que o nacional Retratos Fantasmas não tenha entrado nessa lista.

Nota 5. Não recomendo.

Nos cinemas.


segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Vidas passadas (2023)

 


Indicado ao #Oscar2024 para Melhor Filme e Roteiro Original.

Ótimo drama romântico, mas perante os competidores deste ano acho que não tem chance.

Longa metragem de estréia da diretora Celine Song, a principal virtude do filme é apresentar uma história de amor e destino com uma enorme dose de realidade, simplicidade  e sensibilidade.

A vida é feita pelas nossas escolhas. Simples assim.

A sinopse é a história de Nora e Hae Sung, dois amigos de infância que se separam quando a família de Nora se muda da Coreia do Sul para os Estados Unidos. Anos depois, eles voltam a se falar pela internet e a chama se reacende mas cada um tem outras prioridades, a vida segue e ela se casa com outro. Anos depois ele vem a Nova Iorque para o reencontro de suas vidas, que irá deixar marcas para sempre. O final é profundamente comovente.

O contexto e gênero me lembraram um pouco do Dias Melhores indicado no #oscar2021.

Faltou elenco e química. Se fosse filmado na Argentina ou no Brasil com certeza teria um casting mais visceral, colocando uma pimenta a mais e melhorando o ritmo do filme, que é bem lento.

Um dos pontos altos é a fotografia, que seguindo a filmografia do Woody Allen, faz Nova Iorque virar mais um personagem.

Nota 7, recomendo para quem gosta de romance.

Nos cinemas.

Vidas Passadas (2023) - IMDb

domingo, 25 de fevereiro de 2024

Zona de interesse (2023)

 

Bem no meio do circo que se armou para vender mais jornal manchado de sangue palestino, estreia esse filme sobre o Holocausto que é sim um dos melhores de 2023. Mais um para o portfolio da A24.

Cinco indicações para o #Oscar2024, melhor som é ors concurs, IMBATÍVEL.

Além de melhor som, mais quatro indicações merecidas para melhor filme, melhor filme internacional, melhor diretor e melhor roteiro adaptado. 

Vencedor do grande prêmio do juri e melhor som em #Cannes2023, indicado para palma de ouro.

Ganhou os #Bafta2024 de melhor filme britânico, melhor filme em língua não inglesa.

E tem razão para tantos prêmios mesmo.

Em essência o filme trata do que Hannah Arendt chamou de Banalidade do mal.

Roteiro adaptado do romance homônimo escrito por Martin Amis, o filme retrata a vida de Rudolf Höss  comandante do campo de concentração de Auschwitz, e sua esposa Hedwig (interpretada por Sandra Hüller que também concorre ao #Oscar2024 por Anatomia de uma queda). 

Eles desfrutam de uma vida aparentemente comum e bucólica, em uma casa rica e confortável, com jardim, piscina, horta, cavalariça. No entanto, literalmente por trás dessa fachada de tranquilidade, a família vive ao lado do campo de concentração, a casa faz divisa com o campo. Através dos olhos e atitudes do casal e filhos, o filme explora a banalidade do mal e a complacência alemã durante o Holocausto,  normalizado pelas pessoas, que mantinham suas vidas confortáveis enquanto um genocídio estava sendo praticado.  O roteiro mostra uma vida doméstica aprazível numa paisagem bucólica enquanto o bicho pega ao lado.

Por isso que o filme tem um design de som magnífico, é talvez o elemento mais poderoso e assustador do filme. O som dos trens, crematórios, os gritos dos prisioneiros, todos os sons perturbadores de Auschwitz são apresentados, criando um filme que evita a violência imagética. O som é um personagem por si só, testemunhando o terror que não aparece na tela e criando uma atmosfera de tensão e suspense, aumentando o impacto emocional do filme.

Isso já começa na cena de abertura, que lembra o mesmo conceito da abertura do filme Melancolia.

A montagem também é bem peculiar, às vezes até confusa. Só alguns dias depois do filme ficar na cabeça é que fazem muito sentido as cenas filmadas em infra vermelho e também no Museu do Holocausto. 

A fotografia lembra um pouco os filmes do Wes Anderson (tem vários comentados aqui no blog), com tons pastéis e cenas bem simétricas, remetendo ao apuro e rigor tecnocrático nazista que se torna mais cruel ainda por se basear no caos da morte.

No vídeo abaixo o diretor mostra alguns recursos utilizados para filmar cenas em plano sequência em diferentes pontos da locação:



Dos anteriores desse diretor eu adorei o Sexy Beast, mas não gostei tanto de Reencarnação.

Atenção não é um filme para agradar o grande público, principalmente para quem conhece os detalhes de como funcionavam os campos de concentração, o filme é sutil, complexo, tem elementos bem perturbadores, apresentados em uma perspectiva que foge totalmente aos clichês de Hollywood, evitando a espetacularização dos horrores do campo. Não é mostrada nenhuma imagem de alguém morrendo, no entanto está tudo lá.

Vale compará-lo ao Nada de novo no front que ganhou 4 #oscar2023.

Nota 9 recomendo. Não é entretenimento. É para ouvir, ver e pensar...

Nos cinemas.

Zona de Interesse (2023) - IMDb

Abaixo um texto que eu trabalhava na minha disciplina de Introdução à Tecnologia:

    UM EXEMPLO DO PENSAMENTO TECNOCRÁTICO

 

Geheime Reichache (Assunto secreto do Reich)

 

Berlim, 5 de junho de 1942.

Mudanças a introduzir nos veículos especiais atualmente em serviço em Kumholf, Chelmno, e naqueles que estão em construção

 

Desde o mês de dezembro de 1941, noventa e sete mil foram tratados (verarbeitet) pelos três veículos em serviços sem maiores incidentes. Entretanto, levando em conta as observações feitas até então, as seguintes mudanças técnicas se impõem:

 

1. O carregamento normal dos caminhões é geralmente de nove a dez por metro quadrado. Nos  veículos Saurer, que são muito volumosos, a utilização máxima do espaço não é possível. Não por causa de uma sobrecarga eventual, mas porque o carregamento à capacidade máxima teria repercussões sobre a estabilidade do veículo. Uma diminuição do espaço de carga parece, portanto, necessária. Seria absolutamente necessário reduzir esse espaço em um metro, em lugar de procurar resolver o problema como se fez até o momento, diminuindo o número de peças a carregar. Este último procedimento tem a desvantagem de acarretar um tempo de funcionamento mais longo, pois o espaço vazio também precisa ser enchido de óxido de carbono. Em compensação, se se diminui o espaço de carga, carregando completamente o veículo, o tempo de funcionamento pode ser consideravelmente reduzido. Os construtores da máquina disseram-nos por ocasião de uma conversa

que a redução da parte traseira do caminhão acarretaria um desequilíbrio indesejável. A parte dianteira, sustentam eles, seria de fato sobrecarregada. Mas na realidade o equilíbrio se restabelece involuntariamente pelo fato de que a mercadoria carregada mostra, durante o funcionamento, uma tendência natural a se apertar contra as portas traseiras e se encontra, ao final da operação, deitada sobretudo nesse lugar. Assim, nenhuma sobrecarga da maquinaria dianteira se produz.

2. É preciso proteger a iluminação contra a destruição mais do que se fez até o momento. Redes de ferro devem cercar as lâmpadas a fim de evitar que sejam estragadas. A prática demonstrou que se poderiam dispensar as lâmpadas, dado que estas aparentemente nunca são utilizadas. Entretanto, pôde-se observar que no momento do fechamento das portas, o carregamento comprime-se sempre fortemente contra elas, desde que se faz a obscuridade. Isso resulta do fato de que o carregamento precipita-se naturalmente para a luz, quando a obscuridade se faz, o que torna o fechamento das portas difícil. Além disso, pôde-se observar que por causa do caráter inquietante da escuridão os gritos sempre explodem no momento do fechamento das portas. Portanto seria oportuno acender a iluminação antes e durante os primeiros minutos do funcionamento.

 3. Para uma limpeza fácil do veículo, é preciso dispor no meio do piso um buraco de escoamento  bem estanque. O tampo do buraco, de um diâmetro de 200 a 300mm, será provido de um sifão inclinado, de maneira a que os líquidos fluídos já possam escorrer durante o funcionamento. No momento da limpeza, o buraco de escoamento servirá para a passagem da sujeira mais pesada.

 As mudanças técnicas acima devem ser introduzidas nos veículos em serviço unicamente no momento em que estes tiverem necessidades de consertos. Quanto aos dez veículos novos encomendados à Saurer, deverão, na medida do possível ser planejados com todas as inovações e mudanças deduzidas da prática e da experiência.

 Submetido à decisão do Gruppenleiter II D. SS-Obersturmbannführer Walter Rauff

 Devidamente assinado.

 Extraído de

LANZMANN, Claude. Shoah - Vozes e Faces do holocausto. São Paulo, Brasiliense, 1987






    

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Nyad (2023)

 


A Netflix tem um padrão que é elenco caro e roteiro ruim, raramente sai disso.

Infelizmente nesse caso não sai disso.

Indicação de atriz principal e coadjuvante para o #oscar2024.

Tanto a Jodie Foster quanto a Anette Banning tem ótimos filmes no currículo, mas é bizarro a academia ter esnobado a Julianne Moore e a Natalie Portman indicando o ótimo May December somente para roteiro original.

Para ser bem sincero o filme é chato pacas, possivelmente inclusive porque a protagonista na vida real resolveu mandar de roteirista ao lado da estreante Julia Cox.

Nada ofusca o mérito de realizar um sonho após os sessenta anos, mas conseguir contar a história no cinema exige mais do que a virtude de não desistir nunca.

Trata-se de um esforço biográfico da nadadora maratonista aquática Diana Nyad (a etimologia do nome é repetida à exaustão no filme) focando na suas várias tentativas de travessia a nado de Cuba até a Flórida, após os 60 anos de idade. 

Os diretores ganharam o #oscar2019 pelo bom documentário Free Solo, esse até se parece um pouco, centrado na perseverança da protagonista, mas é bem pior...

O roteiro dividido com a nadadora peca pela falta de profundidade e excesso de repetição. A história se concentra nos feitos heroicos de Nyad (segundo li alguns detalhes até inventados ou exagerados, como por exemplo os encontros com tubarões e águas vivas), mas esquece de explorar as nuances de sua personalidade e motivações. 

A própria abordagem da relação com a amiga representada por Jodie Foster que é o motor da história acaba morrendo na praia... A relação entre as duas personagens, crucial para a história, é mal explorada, privando o público de uma conexão emocional mais profunda com a trama.

A Annette Bening que eu adorei em Beleza Americana e também no recente Jerry and Marge que comentei aqui no blog entrega uma performance dedicada e convincente c capturando a força de vontade e determinação da nadadora, mas comparada com as outras duas que citei, fica bem abaixo... 

Já a atuação da Jodie Foster é bastante forçada e o roteiro também não ajuda,  seu papel é subdesenvolvido. 

Na fotografia também da água, o filme fica dependendo dos efeitos especiais no meio de um oceano de possibilidades.

Conclusão: a nadadora chega mas o filme morre afogado.

Nota 5, não recomendo. Ou melhor recomendo para quem "não desiste nunca".

Mas que é injustiça com a Julianne Moore e a Natalie Portman, ah isso é.

Disponível netflix.


Free Solo (2018)

 


Recuperando uma postagem no facebook em 2018 para conectar com o Nyad (2023):

#oscar2019 de melhor documentário, merecido! 

Trabalho minucioso de acompanhamento e edição para montar um filme que tensiona e prende o espectador até o fim. 

Interessante lição de perseverança, determinação e obstinação para atingir um objetivo, inclusive demonstrando que quem é capaz de ter tudo isso é por causa de um defeito no cérebro!!! 

Nota 9, recomendo.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Anatomia de uma queda (2023)

 


Cinco indicações para o #Oscar2024: filme, direção, roteiro original, montagem e atriz e vencedor da Palma de Ouro em #Cannes2023.

O filme tem muitos elementos que eu geralmente curto: final aberto, tragédia, mistério, suspense psicológico, drama familiar denso, mas por algum motivo não me agradou, na contramão da crítica, pois foi um dos mais aclamados do ano passado.

O mesmo já tinha acontecido com o anterior da diretora Justine Triet, Sibylque também achei meio frustrante.

Acho que o principal motivo é que o roteiro, apesar de ter várias virtudes, acaba caindo no filme de julgamento.

Nesse gênero dois muito interessantes que assisti recentemente e vou postar foram o Les Chambres Rouges e Saint Omer.

A sinopse é  uma escritora alemã que vive um casamento turbulento com um autônomo (cuja profissão o roteiro não revela) em um chalé isolado nos Alpes franceses. Ele é encontrado morto e ela se torna a principal suspeita. A investigação explora os segredos e mentiras que permeavam o relacionamento. Através do testemunho de Daniel, o filho do casal que é cego, a trama se torna complexa e ambígua e deixa para o espectador a tarefa de ligar os pontos e decidir sobre a verdade do que ocorreu.  A narrativa é bastante não linear, com flashbacks e saltos no tempo e cria a atmosfera de mistério e ambiguidade que permeia o filme.

Indicação merecida para Sandra Hüller, que também atua em Sibyl, O homem ideal e eu adorei em Toni Erdamnn, indicado a palma de ouro em #Cannes2016 e melhor filme estrangeiro no #Oscar2017.

Confira o comentário sobre o Zona de Interesse, no qual ela atua e que teve 4 indicações para #oscar2024..

A fotografia ajuda a criar a atmosfera melancólica e claustrofóbica do filme. A paleta de cores frias e os planos longos e estáticos contribuem para a sensação de isolamento e aprisionamento. A trilha  também contribui para a construção da psique dos personagens. 

Nota 7, recomendo só para quem conhece o conceito jurídico de verdade real.

Anatomia de uma Queda (2023) - IMDb

Nos cinemas.

As faces de Toni Erdmann (2017)


Recuperando uma postagem no facebook em 2017:

Surpreendente! Denso! Forte! 

Catarse de sobra para pais e filhos. 

O único defeito do filme é que é longo, 162min. 

Quando vc acha que já aconteceu tudo, o filme muda completamente, e quando fica esperando para ver o que vai acontecer, ele acaba. 

Alguns princípios do Dogma 95 estão lá. 

Sensacional! Nota 9.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

O Território (2022) x Assassinos da lua das flores (2023)

 

 

Scorcese tá no panteão dos maiores diretores da história, com louvor.

Para o #oscar2024 produziu em colaboração com o Spielberg o Maestro, que estou com preguiça imensa de assistir e produziu e dirigiu este.

Mas vem de novo, do mesmo jeito que no Irlandês, com filme de 3h. Tenha santa paciência...

E de mais a mais, se o assunto é genocídio dos povos originários, não que o americano não mereça ser contado, mas vale destacar muito mais o excelente e triste documentário brasileiro Território que estava na pré-lista dos indicados a documentário de longa metragem do #Oscar2023, mas não foi para a lista final, sendo que ganhou o Navalny.

Das dez indicações do loooooga, sinceramente merecidas mesmo só figurino e design de produção a de montagem então é absurda, pois mesmo com 3h tem vários pontos da história que o espectador fica perdido... Sem dúvida é louvável o respeito e cuidado para contar a saga do povo Osage, mas a história poderia ter sido contada de forma mais eficiente em um tempo menor.

Do que já vimos do De Caprio e do De Niro, não dá para falar que é o melhor papel de nenhum dos dois. E a indicação da atriz tb achei meio forçada, como aliás é tudo no Oscar...

Território mostra a realidade urgente da Amazônia, mergulhando na luta dos povos indígenas contra a devastação ambiental causada pela invasão de suas terras por grileiros, madeireiros e garimpeiros. O documentário se destaca pela abordagem sensível e respeitosa, pela fotografia belíssima e impactante, e pela narrativa envolvente. Mais que necessário, essencial para qualquer brasileiro(a).

O necrogoverno tentou queimar a Amazônia e dizimar o seu povo, por isso esse documentário é tão importante.

Destaque para a jovem Txai Suruí que não apenas aparece no documentário, como também é uma das produtoras executivas, Txaié uma jovem liderança indígena do povo Uru-eu-wau-wau, de Rondônia. Ela é a voz principal do filme, narrando a história de seu povo e a luta pela defesa da Amazônia, símbolo da resistência indígena, mostrando ao mundo a força e a determinação dos povos originários na defesa de seus direitos e de seus territórios.

Através de imagens aéreas, depoimentos emocionantes e cenas de ação, o documentário revela a devastação da floresta pelas mãos de madeireiros, grileiros e garimpeiros. A morte de Ari Uru-Eu-Wau-Wau, membro da equipe, choca torna a luta ainda mais urgente. Um convite à ação, um grito de alerta para defender a Amazônia e seus guardiões.

Que distribuam as estatuetas por lá, mas defendamos e cuidemos antes dos Yanomami, Uru-eu-wau-wau e demais nações que habitam o nosso território!!!

Nota 10 para o documentário e 6 para o filme.

O Território está disponível no Disney +.




domingo, 18 de fevereiro de 2024

Os rejeitados / The holdovers(2023)



Estava com um pouco de preguiça de assistir esse, mesmo gostando muito de tragédia.

Com esse nome e sendo a história de um professor rabugento, nem precisa de spoiler.

Mas como teve 5 indicações para o #oscar2024, meu TOC falou mais alto e até dou uma nota 7.

Indicação merecidas de ator principal (Paul Giamatti), atriz coadjuvante (Davine Joy Randolph).

Trata de temas próximos, mas não chega a ser um Sociedade dos Poetas Mortos ou Gênio Indomável, mesmo assim foi indicado para melhor filme, roteiro e montagem, achei meio exageradas essas.

E olha que gostei de Nebraska o anterior do mesmo diretor.

Aliás, antes de falar dele até vale uma breve lista de outros filmes sobre professores e a face obscura do mundo escolar aqui do blog:

Meu favorito de longe é o Professor Substituto, competindo com Nota de Rodapé

Recentemente assisti o ótimo Monster.

Quo vadis Aida? 

El olvido que seremos

Ruído Branco.

Druk

Lunana

Bad luck banging or loony porn

A sinopse é o winter break de uma escola muito tradicional, em que o personagem principal tem que ficar cuidando de cinco alunos que, por diferentes motivos, não podem ir para casa e são obrigados a passar o feriado no colégio. 

Aliás uma quebra do ritmo do roteiro que achei bem ruim é que dos cinco por um motivo fortuito fica somente um, de onde parte a trama que envolve também a cozinheira e o zelador da escola, cruzando em certos momentos com a secretária do diretor.

A narrativa é rica em detalhes, explorando os dramas e frustrações de cada personagem com humor ácido e sensibilidade. Bons diálogos, inteligentes mas às vezes flerta um pouco com xarope, pois a história se passa durante o Natal e Ano Novo, explorando o tema de família e solidão. Vai tentando dosar entre drama e comédia, deve ser por isso que foi indicado para melhor montagem. 

Fica essa citação do professor que é mesmo boa, no momento em que ele leva o aluno no museu: " Não há nada de novo na experiência humana, Sr. Tully. Cada geração acha que inventou a libertinagem, o sofrimento ou a rebeldia, mas todos os impulsos e apetites do homem, do nojento ao sublime, estão expostos aqui ao seu redor. Então, antes de descartar algo como chato ou irrelevante, lembre-se, se você realmente quer entender o presente ou a si mesmo, você deve começar no passado. Veja bem, a história não é simplesmente o estudo do passado. É uma explicação do presente".

Nota 7, recomendo para os mais emotivos que vão rir e chorar.

Os Rejeitados (2023) - IMDb


Nebraska (2016)

 


Transferindo um curtíssimo comentário do facebook em 2016, para cruzar com o recente Os Rejeitados do mesmo diretor Alexander Payne:

Bom filme! 

Um registro sensível sobre as tensões comuns em todas as famílias e entre pais e filhos, também um olhar emocionante sobre as dificuldades e desafios da velhice. 

Quem gostou de "Straight story" do David Lynch, vai gostar desse também. 

Recomendo, nota 8.

O professor substituto (2018)

 


"A hora da saída" (título em francês) não é um filme comum. Ao contrário das produções hollywoodianas que romantizam a vida escolar com clichês e finais previsíveis, este drama mergulha em um universo sombrio e realista, explorando as nuances das relações interpessoais dentro do ambiente educacional.

Catarse total...

A história já começa com o pé na porta, o professor de uma turma de alunos superdotados tem que ser substituído devido a um triste e chocante acontecimento perante a turma já na primeira cena. Esse é o ponto de partida para uma profunda reflexão sobre os desafios e dilemas que afligem tanto professores quanto alunos.

O talento dos jovens atores é um dos pontos fortes do filme. Sua naturalidade e entrega aos papéis eclipsa, em alguns momentos, até mesmo a performance do ator principal. A química entre o elenco é palpável, contribuindo para a construção de uma atmosfera densa e envolvente.

A direção opta por um estilo minimalista, sem trilha sonora e com foco nos diálogos e nas expressões dos personagens. Essa escolha contribui para a construção de um clima pesado e claustrofóbico, que reflete a angústia e a solidão que permeiam a vida escolar.

"O Professor Substituto" aborda temas sensíveis e que muitas vezes são ignorados nas produções cinematográficas. A frieza e a crueldade coexistem com a ética e o bom senso, expondo a face obscura da escola.

O roteiro toca mas não entra em temas que poderiam potencializar mais a tensão e angústia do filme como assédio sexual, o papel dos pais e outros, e seu defeito é exatamente deixar de desenvolver mais os personagens e centrar nas mensagens que pretende passar a respeito da escola e do meio ambiente, essa última, na minha opinião, até desvia o filme de onde poderia chegar.

Se você curte filme de high school xarope que gera suspense para o beijo no baile, provavelmente vai odiar. pois uma das virtudes deste filme é ser um high school movie "lado B". De certa forma lembra os filmes do Dogma 95, daria até para montá-lo sem trilha sonora. Eu costumo dizer que tudo de bom e ruim que existe no mundo existe na escola e o filme navega na zona cinzenta do que raramente dizem entre si professores/as e alunos/as bem como em seus próprios guetos, onde muitas vezes só a ética e o bom senso demarcam algum limite para a frieza e crueldade e a solidão é um dos fardos pesados

Nota 8, Recomendo, especialmente para aqueles que trabalham no ambiente escolar. A obra serve como um alerta para os problemas que podem existir dentro das escolas e para a necessidade de um diálogo aberto e honesto sobre esses temas.

Disponível no MUBI.

O Professor Substituto (2018) - IMDb



sábado, 17 de fevereiro de 2024

Pedágio (2023) / O órfão (2018)


Ótimo drama.

Eu ainda não conhecia o trabalho da diretora Carolina Markowicz, que já havia se destacado com o curta O Órfão, vencedor da palma Queer em #Cannes2018.

Estava cotado para representar o Brasil no #Oscar2024 mas perdeu para Retratos Fantasmas, do mesmo diretor de Bacurau.

De certa forma aborda os mesmos temas do curta, inclusive é o mesmo ator principal, o curta está disponível no youtube: 


O filme aborda a questão da homofobia e da chamada “cura gay” através da história de Suellen  uma cobradora  que não concorda com a opção sexual do seu filho adolescente.

A atriz Maeve Jinkings está sensacional eu já tinha gostado muito a atuação dela e do coadjuvante Thomas Aquino em Os outros,

O filme adota um tom bem irônico e pesado para expor as contradições e hipocrisias da sociedade "do bem" brasileira, que se apoia na religião, na moral e nos bons costumes para justificar o preconceito e a violência contra as minorias. 

Suellen, que vive um relacionamento abusivo com um criminoso e decide levar seu filho a uma terapia de cura gay na igreja de um pastor estrangeiro, que cobra uma fortuna pelo tratamento. Para conseguir o dinheiro, ela entra em um esquema que envolve o pedágio. 

O roteiro é bem sucinto e  inteligente, passando pelo humor ácido, drama e suspense, sem perder o foco na crítica social no drama humano e nas muitas culpas que as mães carregam, mesmo sem serem responsáveis por elas. Nesse sentido o final é um tapa na cara do espectador.

A fotografia também é bem bacana e simbólica, a locação em Cubatão cria uma metáfora para o inferno que é a vida dos personagens.

Veja também no youtube essa rápida entrevista com a diretora e a atriz:


Nota 8, recomendo. Disponível no youtube pago e apple tv.