sábado, 31 de agosto de 2024

Last stop in Yuma County (2024)


Ótimo filme! Um legítimo Tarantino só que de outro diretor: Francis Gallupi.

Quem me conhece sabe que adoro tragédia e esse é meu estilo preferido - começa ruim, vai piorando, piorando e termina sem final feliz. Nota 10!!!

Tensão, desespero e brutalidade com uma narrativa que prende o espectador do início ao fim, tem a vibe dos filmes dos irmãos Coen também.

A trama se desenrola na lanchonete de um posto de gasolina no meio do deserto do Arizona, onde um vendedor de facas e a garçonete esposa do xerife são feitos reféns por dois ladrões de banco em fuga do assalto. O posto está sem gasolina e ninguém consegue sair.  A situação vai piorando à medida que vão chegando outros clientes mas nem todos sabem o que está ocorrendo.

Lembra um pouco o ótimo nacional O animal cordial o espanhol El Bar e o Albino Aligator. 

O clássico Pulp Fiction começa do mesmo jeito e a cena mais tensa é parecida com o climax de Cães de Aluguel. 

O elenco não tem atores conhecidos do grande público, o que não é nenhum problema.

Nota 10, recomendo, verdadeiro faroeste contemporâneo.

Disponivel prime video (com vpn).



Longlegs (2024)


Nicolas Cage vem diversificando bem a carreira.

Bom filme do gênero suspense / horror, o roteiro não é tudo isso que a mídia está promovendo, praticamente uma mistura de coisas que já foram vistas antes e deram certo, mas até que entrega os sustos que promete.

Meio que uma mistura de Silêncio dos Inocentes com Seven.

A história gira em torno de Lee Harker, uma agente do FBI interpretada por Maika Monroe, que investiga uma série de assassinatos ritualísticos. À medida que o enredo avança, a investigação de Harker revela conexões perturbadoras com seu próprio passado, transformando a busca por um assassino em uma jornada pessoal. O roteiro, embora inicialmente ancorado em uma narrativa de mistério, gradualmente mergulha em territórios mais sobrenaturais, abordando rituais satânicos e simbolismos ocultos que adicionam uma camada de horror existencial ao filme​, só que o roteiro dá muita pinta e para os mais atentos acaba entregando os plot twists muito facilmente.

Não vi os anteriores do diretor Osgood Perkins, mas gostei da fotografia, os planos são todos com o personagem no centro da tela, e consegue ser literalmente sombrio. As perspectvas esticadas e em movimento aumentam a sensação de desconforto e claustrofobia em muitos quadros.

Gostei bastante da trilha sonora também, com músicas dos anos 60 e 70, que adicionam uma camada de nostalgia e estranheza ao filme

Não gostei muito da atriz principal e do coadjuvante mas o N. Cage faz o papel de vilão adorador do demônio com bastante competência. 

Não alcança os arrepios de Hereditário mas combina bem horror psicológico e sobrenatural. 

Nota 7, recomendo para quem gosta do gênero.

Nos cinemas.

Longlegs: Vínculo Mortal (2024) - IMDb


quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Tuesday o último abraço (2023)



Belo filme, um dos mais diferentes que já vi sobre os temas profundamente filosóficos da morte, luto, perda, aceitação, no gênero realismo fantástico.

Selo A24 então já sabe que vem coisa boa...

Somente quatro atores principais, e pouquíssimas locações, grande parte do orçamento do filme deve ter sido investido em efeitos especiais, num caso raro e muito bem vindo em que os efeitos não aparecem mais do que o roteiro.

Para quem é fã do Sandman de Neil Gaiman, remete imediatamente ao bater das asas da Morte, que neste é... uma grande arara falante!

A narrativa é centrada em Zora (Julia Louis-Dreyfus - Seinfeld) e sua filha adolescente Tuesday (Lola Petticrew), que enfrentam a iminente morte de Tuesday, presa a uma cadeira de rodas.

Estréia da diretora crotata Daina Oniunas-Pusic em longa metragem e mandou muitíssimo bem. 

O filme é bem surreal sem cair no melodrama e adota uma abordagem mais reflexiva e metafórica, onde o real e o fantástico se entrelaçam. A Morte muda de cor, de tamanho, de tom... a arara desengonçada é um símbolo muito interessante da finitude inevitável da condição humana.

E a fotografia destaca bem o bico do pássaro que visualmente equivale à foice do ícone que nos acostumamos a ver.

A relação entre mãe e filha é central à trama, e a diretora usa essa dinâmica para explorar as diferentes formas de lidar com a morte: enquanto Tuesday aceita e abraça seu destino com serenidade, sua mãe Zora passa por uma negação dolorosa, intensa e raivosa.

O roteiro consegue segurar bem a atenção até o final, já partindo do inusitado e gerando expectativas interessantes, por exemplo na cena emblemática onde a mãe, em um ato desesperado, queima e engole o pássaro para tentar proteger sua filha. 

Outro aspecto interessante que está em segundo plano no roteiro é uma reflexão sobre a necessidade da morte no mundo. Enquanto ela fica com as duas personagens, nada no mundo externo consegue morrer, e o filme não entra muito nisso, mas não deixa de ser um filme apocalíptico...

Tem um que eu comentei aqui no blog que trata também do tema por esse ângulo: A descoberta.

Já o lado melancólico e objetivo do luto é algo que esse filme compartilha com Sombras da vida e Depois da Vida

E se quiser ver filmes mais leves e delicados sobre esse tema então confira A despedida e A partida

Muito bom ver a Julia Louis-Dreyfus, conhecida por seus trabalhos de comédia nas séries Seinfeld e Veep num papel dramático, mas com camadas profundas de ironia e sarcasmo - que aliás é comentado explicitamente em várias linhas do texto. O roteiro consegue explorar bem os conflitos da mãe, que luta para aceitar a perda iminente da filha.

 Já Lola Petticrew, como a jovem Tuesday, traz autenticidade, leveza e maturidade para o personagem, especialmente em sua interação com a Morte. 

Nota 9, recomendo para quem curte filmes estranhos e poéticos, esse é emocional e filosófico.

Para quem só tem o senso latino da morte como tragédia, acho que não vai gostar muito, mas certamente deve entrar na lista de quem gosta de filmes que desafiam e enriquecem a compreensão do mundo. 

Já saiu dos cinemas, e ainda não entrou nos streamings, então procurem por aí...

https://www.imdb.com/title/tt14682800/




domingo, 25 de agosto de 2024

A sombra de Caravaggio (2022)


Filme italiano que tenta desvendar a vida tumultuada e a genialidade do pintor, retratando-o como uma estrela de seu tempo, cuja vida transgressora e genialidade artística deixaram uma marca indelével na história da arte. Sua vida foi marcada por controvérsias e perseguições pela Igreja Católica devido à natureza transgressora de suas criações. 

Caravaggio preferia retratar pessoas comuns em suas pinturas religiosas, acreditando que elas capturavam a dor da existência humana. Ele tinha uma relação próxima com a marquesa Costanza Colonna, que o protegeu e influenciou. O filme também destaca encontros com figuras históricas como Giordano Bruno e Artemisia Gentileschi, além de explorar a relação de Caravaggio com o Papa Paulo V e seu sobrinho Scipione Borghese.

O Sombra é um funcionário da Igreja a serviço do papa.  A narrativa se desenvolve a partir do ponto de vista dele, que interroga pessoas que conheceram Caravaggio, construindo uma representação indireta do artista. 

O principal Riccardo Scamarcio está muito bem e o elenco também manda bem, destacando a Isabelle Huppert. 

A fotografia do filme merece uma menção especial. Inspirada pela técnica de chiaroscuro de Caravaggio, a cinematografia captura a interação dramática entre luz e sombra, criando uma atmosfera que reflete a turbulência e a intensidade das obras do pintor. 

É delicioso reconhecer os easter eggs de pinturas famosas ao longo do filme. 

E sou só eu ou vcs tb acham que o designer da Microsoft lembrou das aulas de história da arte??

Dispnivel prime video e disney+ (c/ vpn).

https://www.imdb.com/title/tt11877386/ 

Nota 7, recomendo.





O cara da piscina / Poolman (2023)


Já faz um tempo que acabou a era dos contratos e são os atores que produzem os filmes, de vez em quando eles se aventuram na direção. 

Esse é a estréia do Chris Pine, comédia de mistério meio imitando os filmes dos irmãos Coen, mergulha nas peculiaridades de Los Angeles através dos olhos de um limpador de piscina zen interpretado pelo próprio Pine. 

Ele cria presentes de origami, pratica meditação subaquática em sua piscina, escreve cartas reveladoras para Erin Brockovich e tem um estilo excêntrico, alternando entre shorts curtos e um blazer rosa. Além disso, ele é um defensor fervoroso do transporte público na cidade, usando dioramas feitos à mão para suas campanhas. No entanto, todas essas peculiaridades parecem não ter uma conexão lógica

Claramente tenta imitar O Grande Lebowski, que não é nenhuma Brastemp, mas nem passa perto.

Roteiro meia boca, a trama segue o cara enquanto ele desvenda uma conspiração imobiliária, me lembrou um pouco a continuação do Todo Poderoso com o Steve Carell, que é ruim e ainda é melhor que esse... Outro parecido e melhor é o Roger Rabbit. 

Pine abriu o bolso no casting. O elenco estelar inclui Annette Bening, DeWanda Wise, Jennifer Jason Leigh e Danny DeVito.  Pagando bem que mal tem, mas vai ficar como um ponto baixo pra todo mundo.

Nota 6, comédia sem graça, nada sem direção e morre afogado. Não recomendo.

Disponivel no youtube pago e apple tv.


sábado, 24 de agosto de 2024

Admirável mundo novo (2020~)


Baseada no clássica distopia de Aldous Huxley, talvez não devesse ter sido filmada, pois o livro é daquela categoria difícil de adaptar...

A obra apresenta um futuro utópico, onde a sociedade alcançou paz e estabilidade através de medidas extremas como a proibição da monogamia, da privacidade e da família, e onde os seres humanos são geneticamente concebidos e condicionados para servir a uma ordem dominante.

"Brave New World" não é a primeira tentativa de adaptar a obra de Huxley para a tela. O livro já inspirou filmes e outras séries, cada um oferecendo uma interpretação única dos temas distópicos do autor. A série de 2020, no entanto, destaca-se por sua abordagem contemporânea e relevância para os debates atuais sobre tecnologia, privacidade e poder. A série até que mantem a essência tenta atualizar questões levantadas pelo livro em 1932, como controle social, liberdade individual e a natureza humana. 

Considerando outras ótimas produções de ficção que andei comentando aqui como Contos do loop, Ruptura, Electric Dreams, Love, Death & robots e a essencial Black Mirror, e toda a riqueza conceitual e filosófica do livro, deixa um pouco a desejar...

Nota 6 (para a adptação e 10 Ors Concurs para o livro).










El incidente (2014)



Filme mexicano de ficção científica e suspense - só isso já chama atenção.

Encaixa naquela categoria de baixo orçamento com bom resultado.

Apresenta duas histórias paralelas de personagens presos em espaços infinitos e ilógicos, provocando reflexões profundas sobre a condição humana e a percepção da realidade.

O resultado causa bastante desconforto e incômodo, fica no meio termo de realismo fantástico com um toque de suspense, como tem todo um aspecto de claustrofobia, me lembrou Triangulo do medo,  a trilogia O Cubo e o bom Coerência

Narrativa não linear com uma trama complexa e misteriosa de eventos que desafiam a lógica, cada revelação leva a mais perguntas, criando um ciclo de tensão e suspense crescente.

O filme apresenta duas histórias aparentemente desconectadas, uma envolvendo dois irmãos e um policial presos em uma escadaria infinita, e outra sobre uma família presa em uma estrada que sempre retorna ao mesmo ponto.

O filme não apenas questiona a realidade paralela, mas também serve como uma metáfora para as repetições da vida. Os personagens enfrentam a acumulação de objetos e alimentos, e suas reações e modificações  ao longo dos anos são retratadas de forma brilhante. A ideia de que estamos sempre ansiando pelo próximo momento, sem aproveitar o presente, é central na narrativa.

Nota 7, merece uma conferida, especialmente quem gosta do tema loop temporal.

Prime Video: El Incidente





Aporia (2023)


Bom filme, bom argumento, mas pode deixar a desejar para os fãs mais exigentes.

O nome do filme significa "situação insolúvel, sem saída", que é exatamente o que o roteiro apresenta.

Eu gosto muito do tema viagem no tempo, aqui no blog tem vários comentados, como por exemplo Os doze macacos,  Tenet, Coerência, El incidente e a série Dark, mas como sempre digo, depois que eu vi Primer, nunca mais achei outro roteiro bom o suficiente... 

Este filme segue a trajetória de Sophie Rice, interpretada pela talentosa Judy Greer, uma mãe que enfrenta o luto e os desafios da maternidade após a perda trágica de seu marido. 

O melhor amigo da família revela a ela que ele e o falecido marido inventaram uma máquina do tempo que consegue transportar uma única partícula atômica para o passado e sabendo as coordenadas exatas no espaço-tempo é possível transportá-la para o cérebro de uma pessoa no passado, assassinando essa pessoa de maneira indetectável.

Isso oferece a Sophie uma oportunidade de alterar seu passado, matando o assassino do seu marido mas como já devem imaginar por terem visto em outros roteiros, mudar o passado, muda também o presente...

Portanto essa escolha muda irreversivelmente a realidade dos personagens, e ao tentar "consertar" os erros, eles só pioram os problemas... Portanto apesar do argumento simples, são os aspectos éticos e filosóficos da mecânica quântica que levantam o filme. A trama habilmente entrelaçada oferece uma reflexão sobre as implicações da manipulação do tempo, enquanto explora o luto e a resiliência humana. 

Outra coise que gostei é que mesmo buscando conceitos da física quântica, o filme não se preocupa em explicar muito essa parte científica, o que pode ser um pouco confuso. O final é aberto, ou seja o espectador é que decide o que de fato aconteceu.

Nota 7. 

Disponível no Prime Video. 

Aporia (2023) - IMDb


sábado, 17 de agosto de 2024

Memória (2023)


Comparando com clássicos sobre esse tema como Amnésia e passando pelo homônimo Memória de 2021, que ganhou prêmio do júri em #Cannes2021, gostei muto desse mas já aviso, não é para o grande público.

Dramão "estranho" - como o tema exige, chutando a porta com as complexidades de falar de trauma  família e identidade.

Desse diretor eu comentei aqui no blog o Nuevo Orden, que também ganhou o prêmio do júri em #Cannes2020, que adorei e dei nota 10, e também é bizarro, mas esse fica com uma nota 8.

O casal de principais está fantástico. Eu gosto muito da Jessica Chastain que cravei o #Oscar2022 aqui no blog por Os olhos de Tamy Faye.  

Sylvia é uma assistente social e mãe solteira que se depara com seu passado ao reencontrar Saul (Peter Sarsgaard) em uma reunião de ex-colegas de escola. A estranheza do filme já transborda nesse encontro, pois ele a segue até em casa depois da festa.

O roteiro é um pouco fragmentado, alternando entre o presente e flashbacks do passado traumático de Sylvia que envolve abuso sexual na infância. A construção de personagens é tão boa que acaba sendo um defeito do filme, pois é uma família desarranjada e o filme acaba abrindo mão de ir mais fundo nos arcos dos outros membros das famílias do casal, para concentrar neles e na filha dela.

A melhor cena do filme acontece quando todos da família são defrontados com as próprias culpas na sala de casa.

Trata-se então do envolvimento de uma mãe solteira traumatizada com um adulto vulnerável com demência.  Ela é enfermeira que trabalha em um asilo, e ao reencontrá-lo ela acredita que ele é seu agressor do passado e resolve se vingar, mas acaba indo trabalhar para ele. A relação entre os dois se desenvolve de maneira complexa, explorando questões de perdão e redenção. 

A cena de sexo é uma das mais desconcertantes que já vi.

Uma camada bem interessante do roteiro é que num primeiro olhar parece que a família dele é mais rica e num determinado momento Sylvia é hostilizada pelo irmão do namorado como se quisesse dar o golpe do baú, mas há várias cenas onde se demonstra que a sua própria família vive num padrão bem mais alto do que ela, e que o seu padrão de vida mais baixo é na verdade uma maneira de rejeitar e confrontar a própria mãe. Nesse sentido o filme lembra um pouco o maravilhoso Dias Perfeitos

Apesar do ritmo mais lento eu gostei bastante, exceto do final, que é bem trágico, mas parece final feliz, ou seja, o filme consegue ser exatamente a metáfora que se propõe.

Em resumo uma jornada emocional que explora memórias dolorosas, identidade e perdão. A narrativa deixa a gente refletindo sobre nossas próprias experiências e lembranças.

Nota 8, recomendo para quem como eu já teve uma experiência pessoal de cuidar de alguém com demência.

Disponível no MUBI e Prime vídeo.

https://www.imdb.com/title/tt19864828/