Produção e distribuição A24, Leão de Ouro de melhor atriz e indicado para melhor filme em #Veneza2024, Nicole Kidman foi esnobada no #oscar2025, enquanto Anora e A substância foram indicados em várias categorias...
É o jeitinho estadunidense de que não pode beijar em público, mas se a mulher pelada sair de dentro de outra mulher pelada com bastante sangue e pus, aí pode.
Esse é difícil de resenhar e classificar - o termo que me ocorre é "tensão sexual", se calhar caberia "thriller psicológico sexual", de certa forma se compara mesmo ao da Demi Moore mais pelas circunstâncias que cercam os filmes que pelas películas propriamente ditas.
Curiosamente um dos mais antigos sobre o tema é exatamente com a Demi Moore: Assedio sexual.
Outro parecido que está faltando resenhar aqui, do diretor Michael Haneke (vide minhas resenhas do Happy End e Amour) é A professora de piano com uma favorita do Heneke: a Isabelle Huppert.
Romy é uma CEO bem-sucedida e controladora, esposa de um diretor de teatro e mãe de duas filhas, cuja vida aparentemente perfeita começa a ficar bem turbulenta quando ela inicia um relacionamento secreto e obsessivo com Samuel, um jovem estagiário da empresa. Enquanto Romy exerce poder absoluto no ambiente corporativo, ela se entrega à submissão sexual em seus encontros com Samuel, explorando uma dualidade que bagunça sua cabeça e vida pessoal. À medida que o relacionamento se intensifica e se torna mais claustrofóbico, os limites entre desejo, manipulação e amor se confundem, culminando em uma série de reviravoltas que expõem as vulnerabilidades de ambos.
O filme já começa na cama e pensei "ok mais um em que a empresária trai o marido com o estagiário novinho", mas ao longo do filme o roteiro vai ganhando força e engrenando e prova que é mais complexo que isso, e consideradas as circunstâncias, mesmo não passando no filtro hipócrita de moralidade da Academia, Nicole Kidman mostra que mereceu o Leão de Ouro e a indicação para melhor atriz no Globo de Ouro.
O anterior Bodies, bodies, bodies da diretora Halina Reijn já está na minha fila há algum tempo mas ainda não assisti...
O roteiro de Reijn explora a dualidade de Romy, entre a ousadia e a sensualidade convencional, por isso que mencionei a questão das circunstâncias, para a atriz acaba que é um grande risco, mas assim como a Demi Moore vem no momento certo, no imdb tem uma entrevista bem interessante com a diretora e o par principal.
Ousado até demais dirão muitos, o filme transcende os rótulos fáceis e mergulha nas nuances do desejo, poder e submissão, com uma narrativa tensa e visualmente impactante e acaba sendo um resultado bem interessante, invertendo de uma maneira interessante os papeis na relação de assedio convencionalmente mostrada no cinema estadunidense, em que geralmente o homem poderoso domina a mulher em posição hierarquicamente inferior.
Não tem como não comparar e de certa forma faz até referência ao De olhos bem fechados, onde a Nicole Kidman também aparece nua, esse é um clássico, Kubrick é Kubrick.
Babygirl tem uma abordagem mais sugestiva do que explícita. A nudez é usada de forma mais estratégica, com foco na tensão psicológica e na dinâmica de poder entre os personagens. Há poucas cenas de nudez total, e a maioria delas é brevemente mostrada ou sugerida por meio de closes e ângulos que evitam a exposição direta.
A nudez em Babygirl está mais ligada à jornada emocional da protagonista, as cenas sensuais são mais sobre vulnerabilidade e controle do que sobre erotismo puro, refletindo a dualidade da sua personalidade.
Já o Kubrick tem mais cenas de nudez explícita, especialmente durante a sequência do culto sexual, que é um dos momentos mais icônicos do filme, refletindo a atmosfera de decadência e voyeurismo, surrealismo e desconforto,
Ou seja, a atriz pelada é a mesma, mas a nudez é diferente...
O Antônio Bandeiras, que só reconheci na quarta ou quinta cena, está ótimo também, mereceria até mais cenas para explorar melhor o arco do marido traído, diretor de teatro. Apesar de limitado pelo roteiro, Banderas marca presença.
A trilha tem músicas dos anos 80/90, p. ex. George Michael.
Enfim, começa parecendo que é só sexo, só tem sexo e o sexo visto dessa perspectiva honesta e complexa é um tema inesgotável para bons filmes que nem esse, mas quem só pensa em sexo é capaz de não gostar... Nota 8.
Nos cinemas.
Babygirl (2024) - IMDb